segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013


                    

Santuário de Endovélico



Existem dois santuários dedicados ao deus Endovélico, um que terá sido o primitivo, situado na Rocha da Mina e um segundo posterior a este situado no alto do outeiro de S. Miguel da Mota, ambos no concelho do Alandroal.
 O santuário da Rocha da Mina, é muito simples e primitivo, Manuel Calado descreve o Santuário como rupestre implantado num esporão rochoso com vertentes abruptas, cuja área habitável é extremamente reduzida. As escadas e os pavimentos talhados na rocha são elementos recorrentes num número relativamente elevado de santuários pré-romanos, alguns dos quais romanizados, e são interpretados frequentemente como altares de sacrifício. Este tipo de monumentos é conhecido na Meseta espanhola e no Norte de Portugal, em áreas que sofreram uma influencia celta mais forte.

 O santuário de São Miguel da Mota, cujo nome se deve ao facto de com a implantação da religião católica na península o culto pagão ao deus Endovélico ter sido substituído pelo culto a S. Miguel, é já um templo da época romana. Como se sabe, os Romanos durante todo o seu processo de romanização para além de levarem a sua cultura e religião aos povos que iam romanizando foram também aproveitando e absorvendo os cultos locais. Sendo assim,  Endovélico, foi também um deus adorado pelos romanos como se pode comprovar pelos ex-votos encontrados neste santuário.
 O santuário prosperou sobretudo durante a época romana imperial, época de que data a maioria dos monumentos descobertos. A maior parte das informações que temos sobre este segundo santuário, devem-se sobretudo às investigações de José Leite de Vasconcelos, que como ele próprio nos diz na sua obra Religiões da Lusitânia , teve a sorte de aí fazer a sua estreia como arqueólogo, fazendo um estudo aprofundado do deus Endovélico.

 Deste templo foram recolhidas inscrições em pedra e em bronze, cerâmicas, imagens esculpidas do deus, dos seus devotos e de animais sagrados, lápides funerárias, pedras escavadas em forma de pia, aras votivas, cipos e também alguns elementos que compunham a estrutura arquitectónica do templo. Todo este espólio é de uma grande riqueza como fonte de conhecimento pois numa altura em que poucos relatos escritos nos foram deixados, permite-nos obter informação sobre o modo de vida destes povos, da sua cultura, religião e economia. Segundo Leite de Vasconcelos deveria existir um oráculo dentro deste templo, pois assim o dão a entender algumas das inscrições recolhidas. Oráculo esse que se manifestava seguramente através de sonhos.

O consultante chegava trazendo uma oferta ao deus, fazia um sacrifício ou uma libação, dormia dentro do santuário e na manhã seguinte contava os seus sonhos aos sacerdotes que os interpretavam. Não existe contudo qualquer escrito sobre a forma de como era consultado o oráculo, nem da real existência de sacerdotes, sendo este relato uma mera suposição.

Paulo Loução , fala-nos de uma inscrição que teria nela gravada a expressão ex imperato averno, que foi traduzida por Leite de Vasconcelos como segundo a determinação que vem de baixo, o que implicaria que tal como no templo de Apolo, existiriam também aqui vapores vindos do interior da terra que teriam uma função oracular. A meu ver contudo, esta inscrição pode referir-se ao carácter infernal do deus que enviaria do submundo as respostas ao que era perguntado.

 A este santuário, recorriam pessoas de diversos estratos sociais, assim o provam os ex-votos encontrados que vão desde toscas representações do deus até oferendas mais elaboradas e cuidadas, contendo as inscrições referências tanto a escravos como a patrícios romanos.
Este santuário seria então um local de culto, onde os crentes se dirigiam para pedir algo ao deus, para pagar as suas promessas e para serem iluminados sobre o caminho a seguir quando estavam em dúvida sobre o seu futuro. Em troca faziam sacrifícios, libações e deixavam oferendas e ex-votos.

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