sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

 Os Lusitanos 

 

Conjunto de povos de origem indo-europeia. A sua influência notava-se já antes de 1.500 a.c. A sua língua foi transcrita das raras inscrições que nos chegaram até hoje.
“Dizem que os Lusitanos são hábeis em armar emboscadas e descobrir pistas. São ágeis, rápidos e de grande destreza. Usam um pequeno escudo de dois pés de diâmetro, côncavo para diante, que é preso ao corpo por correias de couro, porque não têm nem braçadeira nem asa. Usam também um punhal ou um gládio. A maior parte dos guerreiros veste couraças de linho e apenas alguns têm cotas de malha e capacete de tríplice cimeira, usando geralmente elmos de fibras. Os peões calçam polainas de couro e estão armados com lanças de ponta de bronze.”
Estrabão, Geografia 3.3.6. (Historiador e geógrafo grego (64-63 a.C. — 24-25 d. C.), do tempo dos imperadores romanos Augusto e Tibério)
g Os Lusitanos são frequentemente vistos como um dos antepassados dos Portugueses e dos Estremenhos (da Estremadura espanhola), apesar de o povo Português ter também outras ascedências.
A figura mais notável entre os lusitanos foi Viriato, um dos líderes no combate aos romanos. Outros líderes conhecidos foram Punicus, Cæsarus, Caucenus, Curius, Apuleius, Connoba, Tantalus e Sertório.
Entre as numerosas tribos que habitavam a Península Ibérica quando chegaram os romanos, encontrava-se, na parte ocidental, a dos lusitani, considerada por alguns autores a maior das tribos célticas, contra a qual durante muitos anos lutaram os romanos.
Não se sabe ao certo qual a sua origem. Os Galaicos aparecem documentados pela vez primeira formando parte do exército do caudilho lusitano Viriato, como mercenários de guerra mas, os galaicos (Celtas) ao norte do Douro posteriormente seriam administrados por Roma como província autónoma na Gallaecia (Galécia) à margem da Lusitânia e da Hispânia Tarraconensis trás ser conquistados por Décimo Júnio Bruto o Galaico, que se entitulou de tal forma perante a forte resistência que encontrou para derrotar os Galaicos.
Os Lusitanos, nesta época, já haviam sido derrotados. Tito Lívio menciona-os incorporados como mercenários no exército de Aníbal, tomando parte na batalha da Trébia e depois atravessando os Pirenéus, após a destruição de Sagunto, a caminho de Itália.
Os Lusitanos seriam de origem pré-celta, como o provam os escritos em língua lusitana encontrados em território português e Estremadura espanhola. Conhecem-se só três inscrições lusitanas, todas elas muito tardias e todas usam já o alfabeto latino. Anteriormente ao período romano não existia uma epigrafia lusitana própia.
Os Lusitanos estavam relativamente bem organizados, assimilando e dando o seu nome às tribos que iam vencendo. Estrabão indica-nos, na sua Geografia da Ibéria, que
"(…) Os montanheses alimentam-se nas duas terças partes do ano com bolota, que depois de secas esmigalham-nas, moem-nas e reduzem-nas a pão, que se conserva por muito tempo; bebem água e uma espécie de cerveja; enquanto ao vinho quase nenhum tem, e o pouco que produzem é consumido nos festins familiares; em lugar de azeite empregam manteiga, comem sentados em bancos construídos junto às paredes, colocando-se conforme a sua idade ou dignidade, as iguarias passam por diante dos convidados, nos seus banquetes dançam ao som de flauta ou da trombeta, fazendo passos figurados, curvando os joelhos e pulando alternadamente (…)"
" (…) Dormem no chão cobertos com o sagum sobre montes de feno; Usam cabelos compridos e flutuantes, como as mulheres, que, durante o combate, prendem com uma faixa sobre a fronte; praticam exercícios como o pugilato e corridas, bem como simulacros de combate a pé e a cavalo (…)"
O geógrafo grego Estrabão na sua "Geografia da Ibéria", relata " (…) os Lusitanos são hábeis e ligeiros nas lutas de guerrilhas, em armar ciladas e em se retirarem de situações desesperadas, fazendo as suas evoluções militares com muita ordem e destreza; tanto combatiam a pé como a cavalo e estes últimos geralmente transportavam um peão na garupa do cavalo, sendo o animal treinado a subir as ásperas encostas das serras(…)"
" (…) Entravam em combate soltando cânticos guerreiros, fazendo uma grande algazarra, gritando e abanando o cabelo para infundir terror, batendo com os pés no chão e as espadas nos escudos, numa bélica gritaria cheia de ardor e entusiasmo(…)"

Fonte: http://arqueo.org/
 

Os Berrões 

 

Estátuas proto-históricas de pedra, esculpidas em pleno relevo com figuras zoomórficas. O vocábulo berrão foi inspirado no termo usado para designar os porcos não castrados.
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Touros de Guisando.
A temática que estas esculturas apresentam é sempre de animais terrestres, como
  • porcos domésticos,
  • javalis,
  • touros,
  • bodes,
  • cães
  • e raramente ursos, todas elas em tamanho natural.
 Das cerca de 400 esculturas conhecidas, as figuras mais frequentes são as de porcos machos.
O material em que são esculpidas é geralmente de granito, embora também se possa encontrar estátuas esculpidas em mármore e talco. Estima-se que a época em que estas estátuas foram esculpidas foi entre a metade do quarto e o primeiro século a.C.
As dimensões dos berrões podem atingir mais de dois metros, no entanto existem vários outros que chegam a ter apenas 30 centímetros.
A zona da cultura dos Berrões é no Nordeste de Portugal, principalmente a província de Trás-os-Montes e Beira interior e estende-se até à Espanha às províncias de Câceres, Zamora, Ávila e Salamanca.
A cultura dos Berrões, em Portugal, está associadas aos castros transmontanos, onde foi feito um grande número de achados, à tribo dos Draganos, um povo pré-celtico que vivia nesta região, e à tribo dos Vetões.
As esculturas representariam animais a quem se prestava culto; um outro possível uso seria o de monumento funerário, como se leva a crer pelas inscrições que algumas destas esculturas exibem.
Temos por exemplo a tradução que foi feita da inscrição, em lingua Ibérica, do berrão de Las Cojotas que suporta esta teoria: "Deus Porco bravo protector da cidade de Adorja"
ReferênciasSantos Júnior, J. (1975). Casa de Sarmento. Conferência: a cultura dos Berrões proto-históricos do Nordeste de Portugal.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Crenças dos Lusitanos


Na época pré-romana ou período proto-histórico, o homem vivia em constante contacto com a natureza, era dela que tirava o seu sustento, era dela que dependia para sobreviver ou não. Sujeito constantemente aos seus caprichos o homem vivia com medo daquilo que não podia controlar, nem explicar. A natureza era para estes homens uma divindade, eles respeitavam-na, temiam-na e adoravam-na. Era ela que lhes dava o alimento e a matéria-prima para fazerem os seus abrigos, as suas armas de defesa, os seus instrumentos para trabalharem a terra. Era ela que os alimentava, abrigava e castigava.

O homem assistia ao nascer e ao pôr-do-sol, às fases da lua, aos inexplicáveis eclipses e trovoadas, agradecia pela chuva, e pelas enchentes dos rios que tornavam as terras mais férteis, pela caça, pelos cereais que cresciam, pelos frutos que colhia, pelos rios cheios de peixe e receava as chuvas abundantes que tudo destruíam, os Invernos rigorosos que lhe dificultavam a sobrevivência, os Verões secos que queimavam as suas colheitas.

Foi fácil portanto que várias crenças começassem a surgir de modo a que o homem conseguisse explicar minimamente aquilo que via, crenças essas que provinham de épocas anteriores, do contacto com outros povos e da própria cultura lusitana. Segundo Possidónio, historiador grego dos séculos II-I a.C., os povos do litoral, acreditavam que todos os dias o sol mergulhava no mar fazendo barulho ao extinguir-se e aumentava assim de volume, o ocaso era pois uma hora sagrada e as populações rezavam para que o sol não se apagasse para sempre. Crença essa semelhante à egípcia, em que os habitantes das margens do Nilo, acreditavam que todas as noites, Rá, o deus-sol, tinha que atravessar o rio numa barca e travar uma luta para que no dia seguinte se pudesse elevar novamente nos céus.

Outras crenças conhecidas dos lusitanos eram a de acreditarem que as éguas do Monte Santo tinham sido fecundadas pelo vento, explicando-se desta maneira a grande agilidade e velocidade das suas crias. Os lusitanos tinham medo da noite e acreditavam na continuação da vida após a morte. A noite era a hora do desconhecido, a hora em que as almas dos mortos novamente regressavam à terra e vagueavam entre os vivos, as almas dos antepassados vagueavam pelos bosques, na confluência dos rios, nas encruzilhadas e aqueles que não recebiam as devidas cerimónias fúnebres, não perdoavam e faziam cair desgraças sobre a família.

 O ferro era considerado um metal impuro e a seu uso era proibido dentro de certos santuários e locais de culto, onde eram utilizados preferencialmente objectos de bronze, barro e pedra. Todos os guerreiros e viajantes respeitavam os cultos e deuses das terras onde entravam. Não se devia desistir de promessas pois isso podia provocava a ira dos deuses.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013


                    

Santuário de Endovélico



Existem dois santuários dedicados ao deus Endovélico, um que terá sido o primitivo, situado na Rocha da Mina e um segundo posterior a este situado no alto do outeiro de S. Miguel da Mota, ambos no concelho do Alandroal.
 O santuário da Rocha da Mina, é muito simples e primitivo, Manuel Calado descreve o Santuário como rupestre implantado num esporão rochoso com vertentes abruptas, cuja área habitável é extremamente reduzida. As escadas e os pavimentos talhados na rocha são elementos recorrentes num número relativamente elevado de santuários pré-romanos, alguns dos quais romanizados, e são interpretados frequentemente como altares de sacrifício. Este tipo de monumentos é conhecido na Meseta espanhola e no Norte de Portugal, em áreas que sofreram uma influencia celta mais forte.

 O santuário de São Miguel da Mota, cujo nome se deve ao facto de com a implantação da religião católica na península o culto pagão ao deus Endovélico ter sido substituído pelo culto a S. Miguel, é já um templo da época romana. Como se sabe, os Romanos durante todo o seu processo de romanização para além de levarem a sua cultura e religião aos povos que iam romanizando foram também aproveitando e absorvendo os cultos locais. Sendo assim,  Endovélico, foi também um deus adorado pelos romanos como se pode comprovar pelos ex-votos encontrados neste santuário.
 O santuário prosperou sobretudo durante a época romana imperial, época de que data a maioria dos monumentos descobertos. A maior parte das informações que temos sobre este segundo santuário, devem-se sobretudo às investigações de José Leite de Vasconcelos, que como ele próprio nos diz na sua obra Religiões da Lusitânia , teve a sorte de aí fazer a sua estreia como arqueólogo, fazendo um estudo aprofundado do deus Endovélico.

 Deste templo foram recolhidas inscrições em pedra e em bronze, cerâmicas, imagens esculpidas do deus, dos seus devotos e de animais sagrados, lápides funerárias, pedras escavadas em forma de pia, aras votivas, cipos e também alguns elementos que compunham a estrutura arquitectónica do templo. Todo este espólio é de uma grande riqueza como fonte de conhecimento pois numa altura em que poucos relatos escritos nos foram deixados, permite-nos obter informação sobre o modo de vida destes povos, da sua cultura, religião e economia. Segundo Leite de Vasconcelos deveria existir um oráculo dentro deste templo, pois assim o dão a entender algumas das inscrições recolhidas. Oráculo esse que se manifestava seguramente através de sonhos.

O consultante chegava trazendo uma oferta ao deus, fazia um sacrifício ou uma libação, dormia dentro do santuário e na manhã seguinte contava os seus sonhos aos sacerdotes que os interpretavam. Não existe contudo qualquer escrito sobre a forma de como era consultado o oráculo, nem da real existência de sacerdotes, sendo este relato uma mera suposição.

Paulo Loução , fala-nos de uma inscrição que teria nela gravada a expressão ex imperato averno, que foi traduzida por Leite de Vasconcelos como segundo a determinação que vem de baixo, o que implicaria que tal como no templo de Apolo, existiriam também aqui vapores vindos do interior da terra que teriam uma função oracular. A meu ver contudo, esta inscrição pode referir-se ao carácter infernal do deus que enviaria do submundo as respostas ao que era perguntado.

 A este santuário, recorriam pessoas de diversos estratos sociais, assim o provam os ex-votos encontrados que vão desde toscas representações do deus até oferendas mais elaboradas e cuidadas, contendo as inscrições referências tanto a escravos como a patrícios romanos.
Este santuário seria então um local de culto, onde os crentes se dirigiam para pedir algo ao deus, para pagar as suas promessas e para serem iluminados sobre o caminho a seguir quando estavam em dúvida sobre o seu futuro. Em troca faziam sacrifícios, libações e deixavam oferendas e ex-votos.