terça-feira, 10 de dezembro de 2013

A Roda do Ano


A concepção de tempo dos pagãos, principalmente a dos Celtas era um pouco diferente da actual. O tempo para eles, não era linear, mas circular; existia também o calendário, que era  lunar, enquanto que o nosso é solar.
Segundo a tradição celta os sabbaths ocorrem oito vezes ao ano, ou seja, duas vezes a cada estação. Nessas ocasiões, são homenageadas duas divindades: a Grande Mãe, ou simplesmente a “Deusa”, que simboliza a própria terra, e o Deus Cornífero (Cernunnos), protector dos animais, dos rebanhos e da vida selvagem.
O povo Celta, assim como outros povos de origem pagã, celebram o começo dos dias através do anoitecer. Quando os raios solares diminuem a sua intensidade ao cair da tarde é o momento de se preparar para mais um dia.
Cada anoitecer lembra que a Deusa reinará através da Lua, das emoções, e das intuições, mostrando-nos que enquanto os homens repousam depois de um dia intenso de trabalho, os sacerdotes e sacerdotisas começam o semear de um novo dia.
O Deus, que também descansa durante a escuridão, prepara-se para um novo nascer, para um novo brilhar, para um novo amanhecer.
Esse acordar e dormir, descansar e trabalhar, morrer e nascer fazem do dia e da noite momentos muito preciosos e de intensa união entre o masculino e feminino. É preciso que essas duas polaridades estejam em perfeita sintonia para que a Natureza se mantenha equilibrada.
Esses momentos de equilíbrio entre o dia e a noite, marcados pelo pôr do sol, a metade da noite, o nascer do sol e a metade do dia, são de extrema importância para a magia. Num suposto tempo linear: os quatro momentos principais seriam: 18h, meia noite, 6h e meio dia; e os secundários: 9h, 15h, 21h, e 3h.
Sabendo que tudo o que existe no macro-cosmos tem o seu correspondente no microcosmos, muitas vezes é preciso entender o micro para alcançarmos e sentirmos a importância do macro. Para muitas pessoas é mais fácil compreender o universo através de pequenos pormenores do dia-a-dia para ter uma noção verdadeira da extensão dos grandes momentos.
Existem quatro momentos do dia (24h) que são pontos vitais, e quatro pontos secundários que são os pontos de equilíbrio. Num processo de imagem reflectida para imagem projectada, temos no ano (365 dias) quatro momentos vitais: o primeiro dia do segundo, quarto, sétimo e décimo meses – dias que caem na divisão exacta do ano em quatro partes iguais, em quatro elementos. Temos, também, quatro momentos secundários: a entrada de cada uma das quatro estações, delimitadas pelos solstícios e equinócios. Assim, a roda do ano esta formada e em eterna harmonia com o universo.
Esta era a maneira de pensar e agir dos Celtas, que tinham o seu calendário assente nestes oito momentos do ano, quando se reuniam em clareiras e templos para festejar ritualmente essas datas. A cada uma delas deu-se um nome:

Samhain - O Fim e o Início de um Ano Novo 
 (31 de Outubro - Hemisfério Norte) e (30 de Abril - Hemisfério Sul)


Este é o mais importante de todos os Festivais, pois, dentro do círculo, Samhain (pronuncia-se SOUEN) marca tanto o fim quanto o início de um novo ano. Nesta noite, o véu entre o nosso mundo e o mundo dos mortos torna-se mais ténue, sendo o tempo ideal para nos comunicarmos com os que já partiram.
... E o ano chega ao fim! Os últimos alimentos são colhidos após o equinócio de outono, marcando o início dos meses em que viveremos com o que conseguimos colher. Os alimentos fornecidos pela Grande Deusa devem agora alimentar os seus filhos famintos e nutrir o Deus na sua caminhada pelo "outro mundo". O raio do trovão que atingiu o carvalho e fecundou a terra é a promessa do retorno do Deus através daquela que um dia foi a sua amante, mas que agora será a sua mãe: a Deusa. E assim o ciclo de vida, morte e renascimento volta a estabelecer o equilíbrio, a Roda do Ano.
O "Outro Mundo" celta, também conhecido como o Abismo, é um lugar entre os Mundos; uma mistura de paraíso e tormentos. É o lugar no qual todos procuramos respostas para nossas perguntas mais íntimas, onde a fantasia se mistura com a realidade e o consciente com o inconsciente. O Abismo é o local onde os heróis são levados para que possam enfrentar os seus maiores inimigos: os seus próprios fantasmas. Apenas vencendo esses fantasmas, que nada mais são que os seus medos, preconceitos e angústias, eles poderão regressar como verdadeiros heróis.
Esta é a simbologia do Santo Graal; uma procura interior
de algo que queremos erroneamente materializar neste mundo. Apenas os cavaleiros que ousarem atravessar os portais do "Outro Mundo" e vencerem a si próprios serão contemplados com o Graal.
Por isso, a Noite dos Ancestrais é um momento de nos lembrarmos daqueles que se foram e habitam o Outro Mundo. É a hora de honrarmos as pessoas que um dia amamos, deixando que elas nos visitem e comemorem connosco esse momento tão especial da Roda do Ano.
Samhain é o festival da morte e da alegria pela certeza do renascimento. O Deus morreu, e a Deusa, traz no ventre o seu amado, recolhe-se ao Mundo das Sombras para esperar pelo seu renascimento. Comemora-se aqui a ligação com os antepassados, com aqueles que já partiram e que um dia, como a natureza, renascerão. Os cristãos transformaram esta data no "Dia de Todos os Santos" e no "Dia de Finados", numa alusão supersticiosa a essa ligação.
É uma noite de alegria e festa, pois marca o início de um novo período nas nossas vidas, sendo comemorado com muito ponche, bolos e doces. A cor do sabbat é o negro, sendo o Altar adornado com maçã, o símbolo da Vida Eterna. O vinho é substituído pela sidra ou pelo sumo de maçã. Os nomes das pessoas que já se foram são queimados no Caldeirão, mas nunca com uma conotação de tristeza!
A Roda continua a girar para sempre. Assim, não há motivo para tristezas, pois aqueles que perdemos nessa vida irão renascer, e, um dia, nos encontraremos novamente, nessa jornada infinita de evolução.

Yule - Solstício de Inverno
(21 de Dezembro - Hemisfério Norte) e (21 de Junho - Hemisfério Sul)


É nesta data antiga que teve origem o Natal Cristão (no Hemisfério Norte). Nesta época, a Deusa dá à Luz o Deus. No Yule é o tempo de reencontrarmos as nossas esperanças, pedindo para que os Deuses rejuvenesçam os nossos corações e nos dêem forças para nos libertarmos das coisas antigas e desgastadas. É hora de descobrirmos a criança dentro de nós e renascermos com pureza e alegria.
Este dia também é chamado Alban Arthuan (A Luz de Arthur), na tradição druida. É o tempo da morte e do renascimento. O Sol parece abandonar-nos completamente, enquanto a noite mais longa chega até nós.O altar é decorado com frutos e flores da época. Os sinos são símbolos femininos de fertilidade, e anunciam os espíritos que possam estar presentes.
A árvore enfeitada é uma antiga tradição "pagã". A árvore era sagrada e os meses do ano tinham nomes de árvores. Esta é a noite mais longa do ano, onde a Deusa é venerada como a Mãe da Criança Prometida ou do Deus Sol, que nasceu para trazer Luz ao mundo.


Imbolc ou Candlemmas - Festa do Fogo, luz e Sol
(01 de Fevereiro - Hemisfério Norte) e (01 de Agosto - Hemisfério Sul)



Imbolc quer dizer: dentro do útero. O inverno ainda não foi embora, mas por baixo da neve a vida já floresce e ganha força. As coisas não acontecem visivelmente, mas já estão lá, latentes, pulsando, à espera do momento certo para vir à tona. A Deusa vagarosamente recupera-se do parto, e acorda sob a energia vitalizante do Sol.
Imbolc é também chamado o Festival das Luzes, em que se acendem velas por toda a casa, mais especialmente nas janelas, para anunciar a vinda do Sol e mostrar ao menino Deus o seu caminho.
Pedidos, agradecimentos ou poemas devem ser queimados na fogueira ou no caldeirão em oferenda, no fim do ritual. O Deus está a crescer e a tornar-se mais forte, para trazer a Luz de volta ao mundo. Pede-se protecção para a família e amigos. O altar é enfeitado com flores amarelas, alaranjadas ou vermelhas.

Ostara - Equinócio de Primavera 
 (21 de Março - Hemisfério Norte) e (21 de Setembro - Hemisfério Sul)

Pela primeira vez no ano o dia e a noite fazem-se iguais. É, portanto, uma data de equilíbrio e reflexão. Os dias escuros vão-se, e a terra está pronta para ser plantada. É quando Deus e a Deusa se apaixonam, e deixam de ser mãe e filho. Nessa data, a semente da vida é semeada no ventre da Deusa, a Donzela revigorada, cheia de vida e alegria.
O Deus é devidamente armado para sair na sua viagem pelo mudo das trevas e reconquistá-lo, para que posteriormente a luz volte a reinar.
Ostara é o Festival em homenagem à Deusa Oster (senhora da Fertilidade), cujo símbolo é o coelho. Foi desse antigo festival que teve origem a Páscoa.


Beltane – A Fogueira de Belenos
(01 de Maio - Hemisfério Norte) e (31 de Outubro ou 01 de Novembro - Hemisfério Sul)


Pronuncia-se Bioltuin (Be-All-Twin) É o festival do casamento entre o Deus e a Deusa, a Rainha de Maio, a Virgem.
Por ser uma data com um cunho profundamente sensual, foi talvez uma das que mais ataques e aproveitamento sofreu do lado dos cristãos. Assim, as fogueiras de Beltane e o Maypole (mastro adornado com fitas coloridas entrelaçadas) tornaram-se os elementos das festas dos santos "casamenteiros" cristãos, bem como o mês de Maio foi consagrado à Virgem Maria e tido como benévolo aos casamentos. Na tradição antiga as pessoas não se casavam durante o Beltane, pois esse mês é dedicado ao casamento do Deus e da Deusa.
Incitados pelas energias da Natureza, pela força das sementes e flores que desabrocham, a Deusa e o Deus apaixonam-se. Nesta data são celebrados rituais de fertilidade e imensas fogueiras são acesas. As fogueiras de Beltane simbolizam o calor da paixão, a intensidade da interacção entre a Deusa e o Deus, e a crescente fecundidade da Terra.
Belenos é o lado radiante do Sol, que voltou ao mundo na Primavera. Durante o Beltane acendem-se duas fogueiras, pois é costume passar entre elas para se livrar de todas as doenças e energias negativas. Nos tempos antigos, costumava-se passar o gado e os animais domésticos entre as fogueiras com a mesma finalidade. Daí veio o costume de "saltar a fogueira" nas festas de Junho.
Uma das mais belas tradições de Beltane é o MAYPOLE, ou Mastro de Fitas. Trata-se de um mastro enfeitado com fitas coloridas. Durante um ritual, cada membro escolhe uma fita da sua cor preferida ou ligada a um desejo. Todos devem girar à volta do mastro e assim entrelaçar as fitas, como se estivessem a tecer o próprio destino, colocando-nos sob a protecção dos Deuses.



Midsummer - Solstício de Verão
(21 de Junho - Hemisfério Norte) e (21 de Dezembro - Hemisfério Sul)


Neste dia o Sol atingiu a sua plenitude. É o dia mais longo do ano. O Deus chega ao ponto máximo de seu poder. Este é o único Sabbat em que às vezes se fazem feitiços, pois o seu poder mágico é muito grande.
Pedem-se coragem, energia e saúde. Mas não esquecendo que embora o Deus esteja na sua plenitude, é também o momento em que começa o seu declínio.
O Deus dá o último beijo na Deusa, e partirá no Barco da Morte, à procura da Terra do Verão.
Tudo no Universo é cíclico, não devemos só nos ligar à plenitude, mas também aceitar o declínio e a morte.
Costuma-se fazer um círculo de pedras ou de velas vermelhas. Queimam-se flores vermelhas ou ervas solares (como a Camomila).
A data era comemorada nos tempos antigos geralmente com jogos e festivais. O corpo e o físico são venerados nesta data.


Lughnasadh ou Lammas - Festa da Colheita
(01 de Agosto - Hemisfério Norte) e (01 de Fevereiro - Hemisfério Sul)


Lughnasadh era tipicamente uma festa agrícola, onde se agradecia a primeira colheita do ano. Lugh é o Deus Sol.
Na Cultura Celta, é o maior dos guerreiros, que derrotou os Gigantes que exigiam sacrifícios humanos do povo. A tradição pede que sejam feitos bonecos com espigas de milho ou ramos de trigo representando os Deuses, que nesse festival são chamados Senhor e Senhora do Milho.
Nesta data agradece-se tudo o que colhemos durante o ano, sejam coisas boas ou más, pois até mesmo os problemas são meios necessários para a nossa evolução.
O outro nome do Sabbat é Lammas, que significa "A Massa de Lugh". Isso deve-se ao costume de colher os primeiros grãos e fazer um pão que era dividido entre todos. Os celtas faziam um pão comunitário, que era consagrado com o vinho e repartido dentro do círculo.
O primeiro gole de vinho e o primeiro pedaço de pão devem ser atirados para dentro do Caldeirão, e serem queimados juntamente com papéis, onde estão escritos os agradecimentos, e grãos de cereais. O boneco que representa o Deus do milho também é queimado, para nos lembrar de que devemos nos livrar de tudo o que é antigo e desgastado para que possamos colher uma nova vida.
Este é o primeiro dos três Sabbats da colheita. O Deus já dominou o mundo das trevas, e agora passará por leves mudanças, o seu poder declina subtilmente com o passar dos dias. Por isso, o honramos, e agradecemos pela energia dada às colheitas.


Mabon  - Equinócio de Outono
(21 de Setembro - Hemisfério Norte) e (21 de Março - Hemisfério Sul)


Este é o segundo dos festivais da colheita (Samhain é o terceiro). A fraqueza do Deus já se sente, e as plantações vão aos poucos desaparecendo, enquanto os celeiros se enchem. Derrama-se leite sobre a terra para agradecer pela fertilidade e bondade da mesma.
No Panteão Celta, Mabon é também conhecido como Angus, o Deus do Amor. Nesta noite pedem-se harmonia no amor e protecção para as pessoas que amamos. Esta é a segunda colheita do ano. O Altar deve ser enfeitado com as sementes que renascerão na primavera. O chão deve ser forrado com folhas secas.
O Deus está em agonia e logo morrerá. Este é o Festival em que se pede pelos que estão doentes e pelas pessoas mais velhas, que precisam de ajuda e conforto. Também é neste festival que se homenageia as nossas Antepassadas Femininas, queimando papéis com os seus nomes no Caldeirão e dirigindo-lhes palavras de gratidão.
O período negro do ano aproxima-se aos poucos. É uma data especial para evocar espíritos familiares, guardiões e antepassados, pedir ajuda e aconselhamento no período mais negro da Roda, que em pouco tempo se fará sentir.

O estudo correcto dos mitos associados a cada festival, o seu simbolismo e a sua linguagem mágica, permite que tenhamos contacto com os seus significados mais profundos, trazendo assim a verdadeira compreensão dos mistérios.
A Celebração dos Festivais que compõem a Roda do Ano Celta devolve uma prática ancestral de Mistérios, a qual possibilita a quem os celebra a compreensão dos mais profundos significados do seu simbolismo.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

A cultura megalítica europeia



A cultura megalítica europeia foi uma civilização pré-histórica e pré-literata baseada principalmente na Europa Ocidental e que deixou um legado de grandes monumentos de pedra (ou megálitos) dispersos através do continente. Calcula-se que as primeiras destas construções, encontradas na Península Ibérica, datem de aproximadamente 5000 a.C., antecipando desta forma as pirâmides do Antigo Egipto por cerca de dois milénios.

Constituídas originalmente de tumbas comunais e outras estruturas bastante simples, o desenho dos megálitos evoluiu posteriormente para incluir as fileiras de pedras da Bretanha e as centenas de círculos de rochas da ilhas britânicas, dos quais o mais famoso é Stonehenge. Muitas destas construções têm sido demonstradas por possuir significativos alinhamentos astronómicos, embora sua função ainda permaneça misteriosa – um facto que não impediu infindáveis especulações. Não obstante certo número de símbolos artísticos intrigantes e distintos terem sido descobertos, é praticamente certo que esta antiga cultura não tinha uma forma de escrita própria e consequentemente, temos de confiar quase que totalmente na arqueologia para revelar sua história.

Tipos de megálitos 

O tipo mais comum de construção megalítica na Europa é o dólmen – uma câmara consistindo de pedras colocadas em posição vertical (orthostats) com uma ou mais pedras de cobertura, formando um telhado. Muitas destas, embora não todas, contêm traços de restos humanos, e é discutido se o seu uso como local de sepultamento era sua função principal. Embora geralmente conhecidas por dolmens, existem muitos nomes locais como anta em Portugal, stazzone em Sardenha, hunnebed em Holanda, Hünengrab na Alemanha, dysser em Dinamarca e cromlech em Gales.
Outro tipo de monumento megalítico que ocorre através da área ocupada por esta cultura é a pedra vertical isolada, ou menhir. Foi demonstrada que algumas delas possuíam funções astronómicas como marcadores e em alguns sítios existem longos e complexos alinhamentos destas rochas – sendo um dos mais famosos o de Carnac na Bretanha e o nosso Cromeleque de Almendres.
Nas ilhas britânicas o tipo mais conhecido é o círculo de pedras (cromlech), do qual existem centenas de exemplos, incluindo Stonehenge e Avebury. Estes dois exibem evidência clara de alinhamentos astronómicos, tanto solar quanto lunar. Stonehenge, por exemplo, é famoso por seu alinhamento do solstício (embora se originalmente se destinava ao solstício de inverno ou de verão, é motivo de discussão). Exemplos de círculos de pedra, embora raros, também são encontrados na Europa Continental. 
 

Outras estruturas 

Associados com construções megalíticas através da Europa existem frequentemente grandes baluartes de vários desenhos – fossos e bancos, grandes terraços, áreas circulares conhecidas como henges e muitas vezes, outeiros artificiais.
Espirais eram, evidentemente, um motivo importante para os construtores megalíticos, e têm sido encontradas esculpidas em estruturas megalíticas por toda a Europa – juntamente com outros símbolos tais como bolinhas, padrões de olhos, ziguezagues em várias configurações e marcas de taça e anel. Embora claramente não seja uma forma de escrita no sentido moderno do termo, estes símbolos, não obstante, possuíam sentido para seus criadores e são notavelmente consistentes através de toda a Europa Ocidental.

Distribuição e desenvolvimento

A distribuição de construções megalíticas indica fortemente que esta cultura foi disseminada por marinheiros. Conjuntamente com os mais antigos sítios encontrados nas costas atlânticas da Bretanha e Portugal, datando de cerca de 4800 AC, as técnicas de construção e outros traços culturais espalharam-se gradualmente para outras áreas costeiras, e daí para o interior através dos grandes sistemas fluviais. Os arqueólogos geralmente distinguem cinco regiões geográficas dentro da cultura megalítica, que exibem certas características locais em acréscimo às tendências gerais continentais. São estas o Grupo Noroeste (norte da Alemanha, Países Baixos e Dinamarca), Grupo do Extremo Oeste (Grã-Bretanha), Grupo Centro-Oeste (noroeste de França), Grupo Sudoeste (Península Ibérica) e Grupo Mediterrâneo (Malta e Sardenha, Córsega e Ilhas Baleares e costas circundantes).
Quem criou a cultura megalítica não deixou registos decifráveis, sua filiação linguística permanece completamente obscura. Tem sido argumentado que a disseminação das línguas indo-europeias na Europa coincidiu com a introdução da agricultura durante o período Neolítico. Se assim for, os construtores de megálitos falavam um dialecto primitivo do indo-europeu, alguns termos nos quais podem ter sobrevivido em nomes de rios e outros acidentes geográficos através da Europa Ocidental. A cultura megalítica perdurou até o estágio do neolítico denominado explosão Bell-beaker há cerca de 2500 aC, a qual introduziu o período Calcolítico – uma fase preliminar da Idade do Bronze. Foi nesta era que se deu o  florescimento completo do desenho megalítico em áreas tais como as ilhas da Grã-Bretanha com seus círculos de pedra e a Bretanha com seus alinhamentos.
Por causa de inumações bem-preservadas deste período na Europa Setentrional, como a da mulher de Egtved na Dinamarca, sabemos algo sobre os estilos de vestuário usados por aquelas pessoas. A maioria dos ornamentos era feitos de lã, mas adornos pessoais de bronze, assim como braceletes, eram comuns.

Mitos modernos

Sendo uma civilização antiga e pouco conhecida, a cultura megalítica atraiu numerosos mitos através dos séculos. As indubitáveis funções astronómicas de muitas das estruturas têm gerado em tempos recentes especulações sobre leys e misteriosas energias telúricas, enquanto os próprios monumentos têm sido apropriados por diferentes grupos da Nova Era para seus fins específicos. Alguns, tais como as Rollright Stones na Inglaterra foram compradas por neo-pagãos. Existem também teorias que ligam a cultura megalítica com o mito da Atlântida.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Iberos





Os Iberos eram um povo pré-histórico que vivia no Sul e no Este do território que mais tarde tomou o nome de Península Ibérica.

As ondas de emigração de povos Celtas que desde o século VIII até ao século VI AC entraram em massa no noroeste e zona centro da actual Espanha, penetraram também em Portugal e na Galiza, mas deixaram intactos os povos indígenas da Idade do Bronze Ibérica no Sul e Este da península.

Os geógrafos gregos deram o nome de Ibéria, provavelmente derivado do rio Ebro (Iberus), a todas as tribos instaladas na costa sueste, mas que no tempo do historiador grego Herodotus (500 AC), é aplicado a todos os povos entre os rios Ebro e Huelva, que estavam provavelmente ligados linguisticamente e cuja cultura era distinta dos povos do Norte e do Oeste.

Havia no entanto áreas intermédias entre os povos Celtas e Iberos, como as tribus Celtiberas do noroeste da Meseta Central, na Catalunha e Aragão. Das tribos Iberas mencionadas pelos autores clássicos, os Bastetanos eram territorialmente os mais importantes e ocupavam a região de Almeria e as zonas montanhosas da região de Granada.

As tribos a Oeste dos Bastetanos eram usualmente agrupadas como "Tartessos", derivado de Tartéssia que era o nome que os gregos davam à região. Os Turdetanos do vale do rio Guadalquivir eram os mais poderosos deste grupo. Culturalmente as tribos do noroeste e da costa valenciana eram fortemente influenciadas pelas colónias gregas de Emporium (a moderna Ampúrias) e na região de Alicante a influência era das colónias fenícias de Malaca (Málaga), Sexi (Almuñeca), e Abdera (Adra), que passaram depois para os cartagineses.


 Na costa Este, as tribos Iberas parecem ter estado agrupadas em cidades-estado independentes. No sul houve monarquias, e o tesouro de El Carambolo, perto de Sevilha, parece ter estado na origem da lenda de Tartessos. Em santuários religiosos encontraram-se estatuetas de bronze e terra-cota, especialmente nas regiões montanhosas. Há uma grande variedade de cerâmica de distintos estilos ibéricos Foi encontrada cerâmica ibérica no sul da França, Sardenha, Sicília, África e eram frequentes as importações gregas. A esplêndida Dama de Elche, um busto com características que mostram forte influência clássica grega.

A economia Ibérica tinha uma agricultura rica, forte exploração mineira e uma metalurgia desenvolvida. A língua Ibérica era uma língua não Indo-Europeia, e continuou a ser falada durante a ocupação romana. Ao longo da costa Este utilizou-se uma escrita Ibérica, um sistema de 28 sílabas e caracteres alfabéticos, alguns derivados dos sistemas fenício e grego, mas de origem desconhecida. Ainda sobrevivem muitas inscrições dessa escrita, mas poucas palavras são compreendidas, excepto alguns nomes de locais e cidades do século III A.C., encontradas em moedas.

Os Iberos conservaram a sua escrita durante a conquista romana, quando se começou a utilizar o alfabeto latino. Ainda que inicialmente se pensou que a língua Vasca era descendente do Ibero, hoje considera-se que eram línguas separadas.

Os Cónios


Os cónios (do latim, Conii), também denominados cinetes, foram os habitantes das actuais regiões do Algarve e Baixo Alentejo, no sul de Portugal, em data anterior ao séc. VIII a.C., até serem integrados na Província Romana da Lusitânia. Inicialmente foram aliados dos Romanos quando estes últimos pretendiam dominar a Península Ibérica.

Origem

A origem étnica dos cónios permanece uma incógnita. Para os defensores das teorias linguísticas actualmente aceites, a origem comum na Anatólia ou no Cáucaso das línguas europeias e indianas: ou seja, línguas indo-europeias, os cónios teriam origem celta, proto-celta, ou pré-céltica ibérica.
Essas teorias, relativamente recentes, foram aceites com facilidade, em grande parte por aqueles que rejeitavam qualquer ligação dos europeus a África.
Antes da teoria da origem caucasiana, muitos europeus julgavam-se descendentes de Jafé, conforme escrito na Bíblia, no livro de Génesis 10:5. Cronistas da antiguidade greco-romana enumeram mais de 40 tribos ibéricas, entre elas a tribo cónia, como sendo descendentes de Jafé, pai dos europeus.

 

História

Os cónios aparecem pela primeira vez na história pela mão do historiador grego Heródoto no séc. V a.c., e mais tarde referidos por Rufo Avieno, na sua obra Ode Maritima, como vizinhos dos cempsios ao sul do rio Tejo e dos sefes a norte.
Antes do sec. VIII a.C., a zona de influência cónia, segundo estudo de caracterização paleo-etnológico da região, abrangeria muito para além do sul de Portugal. Com efeito, o referido estudo baseando-se em textos da antiguidade grego-romana bem como na toponímia de Coimbra del Barranco, em Múrcia, Espanha, e de Conímbriga, propõe que os cónios ocuparam uma região desde o centro de Portugal até ao Algarve e todo o sul de Espanha até Múrcia. Em abono desta tese podemos acrescentar o Alto de Cónio, e o pico de Cónio no munícipio de Ronda, na região autónoma da Andaluzia.
Segundo Schulten, que considera os cónios uma das tribos Lígures e afirmou que «Os Lígures são o povo original da Península», os cónios também teriam marcado presença, não só em Portugal como em Espanha e na Europa, onde os lígures se fixaram. Confirmando esta teoria temos os seguintes topónimos:


- No norte de Espanha, encontramos no desfiladeiro, a passagem Puerto de Conio ou alto de Conio na região autónoma das Astúrias, onde terão habitado a tribo dos coniscos, descendentes dos construtores do dolmen de Pradías, de época neolítica, para muitos relacionada com os cónios. Nesta região terá existido uma cidade, a actualmente desconhecida Asseconia, incluída num dos Caminhos de Santiago. Também, estudos genéticos indicam que os bascos são o povo mais antigo da península e poderão estar relacionados com os cónios através da tribo dos vascones.


 - Em França, os lígures também terão sido "empurrados" para as regiões montanhosas. Mas, em vez da Ronda espanhola ocuparam a região do Ródano-Alpes. O testemunho da presença lígure poderá ser a tribo iconii, conhecidos pelas tribos vizinhas como os Oingt, originando a localidade de Oingt (Iconium em latim) e a região de Oisans. 

 - No norte de Itália, junto ao Ródano italiano a marca da presença lígure dos cónios, para além da Ligúria também nos aparece, um pouco mais a norte, não só nas comunas Coniolo e Cónio, como na província com o mesmo nome, na província de Cónio, da região de Piemonte.

Para outros investigadores que terão ido mais longe, os povos “Ibéricos” além de possuírem a Península Ibérica, França, Itália e as Ilhas Britânicas, penetram na península dos Balcãs. Ocuparam uma parte de África, Córsega e norte da Sardenha. Actualmente e à luz de recentes estudos genéticos, aceita-se que uma raça com características razoavelmente uniformes ocupou o sul de França (ou pelo menos a Aquitânia), toda a Península Ibérica e uma parte de África do Norte e da Córsega. Os topónimos a seguir enumerados também atestam estes dados:

 - Nas Ilhas Britânicas o assentamento fortificado romano Viroconium, atribuido à tribo cornovii, proveniente da Cornualha. Provavelmente, utilizados pelos romanos como tribo tampão contra os ataques escoceses e incursões irlandesas.

 - Muitos autores concordam que a língua cónia teria um substrato muito antigo relacionado com Osco, Latim e Ilírico.

 - No Chipre encontramos uma localidade com o topónimo Konia.

 - Nos Balcãs encontramos a tribo dos trácios cicones que poderão estar relacionados com os cónios e com os povos que invadiram a Anatólia, no sec. XII a.C. e posteriormente fundaram as cidades de Conni, na Frígia e de Iconium, na Anatólia.

Escrita

No Baixo Alentejo e Algarve foram descobertos vários vestígios arqueológicos que testemunham a existência de uma civilização detentora de escrita, adoptada antes da chegada dos fenícios, e que se teria desenvolvido entre o século VIII e o V a.C.. A escrita que está presente nas lápides sepulcrais desta civilização e nas moedas de Salatia (Alcácer do Sal) e é datável na Primeira idade do Ferro, surgiu no sul de Portugal, estendendo-se até à zona de fronteira.
As estelas mais antigas recuam até ao século VII a.C. e as mais recentes pertencem ao século IV. O período áureo desta civilização coincidiu com o florescimento do reino de Tartessos, algo a que não deverá ser alheio à intensa relação comercial e cultural existente entre os dois povos e que se julgava ser distinta da dos cónios. Daí a razão para que a denominação desta escrita comum não ser nem tartéssica nem cónia mas antes escrita do sudoeste, referindo a região dos achados epigráficos e não à cultura dos povos que as gravaram.
Não é consensual a designação da primeira escrita na península ibérica. Para muitos historiadores é a escrita do sudoeste (SO) ou sud-lusitana. Já os linguistas, utilizam as designações de escrita tartéssica ou turdetana. Outros concordam com a designação de escrita cónia, por não estar limitada geograficamente, mas relacionada com o povo e a cultura que criou essa escrita. E, segundo Leite de Vascocelos com os nomes konii e Konni , que aparecem inscritos em várias estelas.
A posição destes estudiosos deve-se à concordância das teorias-hipóteses históricas e modelos linguísticos actualmente aceites nos meios científicos. Estas posições baseiam-se em evidências linguísticas. Só que até à data não foram encontrados dados arqueológicos evidentes, daí que investigadores duvidem da existência dos cónios, outros negam a existência de celtas na península apesar das fontes antigas e das evidências arqueológicas.

Cidade Principal

A cidade principal do país dos cónios era Conistorgis, que em língua cónia, significaria "Cidade Real", de acordo com Estrabão, que considerava a região celta. Foi destruída pelos lusitanos, por estes terem-se aliado aos romanos durante a conquista romana da Península Ibérica. A localização exacta desta cidade ainda não foi descoberta. No entanto, em Beja, existem vestígios do que poderá ter sido uma grande cidade pré-romana. São muitos os autores que admitem a possibilidade de Beja ter sido fundada sobre as ruínas da famosa Conistorgis.

Religião

Aparentemente, antes da chegada dos romanos, os cónios eram monoteístas. O deus dos Cónios era Elohim, segundo uma estela que se encontra presentemente no Museu de Évora.
O Sudoeste na Idade do Ferro, desde o séc. VI a.C., apresenta um complexo de influências religiosas tartéssicas, gaditanas (bastante helenizadas) e célticas ou pré-célticas, correspondente a uma zona de grandes interacções culturais e movimentos de populações.

Fontes: Wikipédia.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Nábia




Normalmente considerada como uma Deidade fluvial, fruto da etimologia que faz derivar este teónimo da raiz indo-europeia, que traduz a ideia de algo que escorre, desliza, flui. O facto de o seu nome surgir em inscrições localizadas nos cimos dos montes, longe de rios, leva a que seja posta em dúvida o seu carácter aquático. Poderia, mesmo assim, estar relacionada com a ideia de humidade, em geral!


Ara de Marecos
A inscrição da ara de Marecos apresenta-a como uma Divindade que pode ser considerada de primeira função.

                                                   O .V . C. O . ETNIM DANIGOM
                                                   M . NABI AE . CORO NAE . VA
                                                   CCA BO VEM NABI AE .AGNV
                                                       IOVI AGNVM B OVE . LA
                                                   CT... VRGO AGNV LIDAE COR
                                               ANN ET D OM ACTVM V ID APR LA
                                              RGO ET ME SALLINO COS CVRATOR
                                             LVCRETIO VITVLLINO LVC RETIO SAB
                                                     INO POST VMO PEREGR INO

Traduz-se como:
"À Excelente Virgem Protectora e Ninfa dos Danigos NABIA CORONA uma vaca um boi
A NABIA um cordeiro
A IUPITER um cordeiro um vitelo
A ...URGUS um cordeiro
A ...DA uma cornuda
Procederam-se aos sacrifícios para ao ano e no santuário no quinto dia dos idos de Abril sob os cônsules Largus e Messalinus sendo ordenantes Lucretius Vitalinus, Lucretius Sabinus, Postumius Peregrinus"


Esta é uma das inscrições nas quais se pode observar o rito indo-europeu do suovetaurilia - Su, suíno, Ove, ovino, Taur, taurino: sacrifício triplo de um suíno, um ovino e um bovino a três Deidades representativas das três funções indo-europeias, que são, respectivamente e por ordem crescente na hierarquia:
- a Fertilidade;
- a Guerra;
- a Espiritualidade propriamente dita (Sabedoria, Magia e Justiça).

Ao que parece, NABIA CORONA representa neste sacrifício a primeira função indo-europeia, uma vez que os animais que se lhe oferecem são bovinos; os adjectivos que lhe são aplicados – como «Excelente», que é «Optimus», associado no ritual romano a JÚPITER – e o facto de aparecer à cabeça do texto contribuem para que se torne sólida a possibilidade de NABIA CORONA ser uma Deidade da Soberania.
O epíteto CORONA pode significar Coroada, o que se coaduna bem com uma Deidade Soberana, ou pode por outro lado relacionar-se com o teónimo CORONUS.
CORONUS, a quem é consagrado um voto registado numa epígrafe de Serzedelo, Guimarães, onde teria existido uma cidade de nome Pedrauca, pode ser ou um Deus do Trovão, segundo a etimologia que deriva este teónimo do Celta Bretão Curun, ou então um Deus Guerreiro inspirador das hordas de combatentes, isto com base na etimologia.


De qualquer modo, não pode deixar de causar alguma perplexidade o facto de parecerem existir aqui duas NABIAS, uma da primeira função, outra da segunda, já que uma delas, a que tem o epíteto de CORONA, recebe uma vaca e um boi, enquanto à outra, sem epíteto, é-lhe oferecido um ovino, vítima normalmente ofertada às Deidades da segunda função indo-europeia. Podemos, por isso, pôr a hipótese de NABIA ser como BAND, mais um tipo de Entidade do que uma Entidade particular propriamente dita. Assim, se explicaria a designação de Ninfa aplicada a esta potência, talvez como noutros casos se aplica o termo Deus a certos Numes paleo-hispânicos.
Entretanto, a propósito desta última hipótese apresentada, Nava parece ser o termo que os Eslavos pagãos aplicam ao mundo dos Deuses e das almas.

O urso poderia ser um dos símbolos de Nábia, representando a realeza.

Fontes: Wikipédia

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Cultura Hallstatt




Minas de sal
Uma das culturas primitivas mais importantes, geralmente reconhecida como pertencente aos Celtas, é a cultura de Hallstatt, que vai desde o Bronze tardio até ao início da Idade do Ferro. Este nome vem da necrópole de uma antiga comunidade mineira de sal nos Alpes Austríacos, que foi escavada entre 1846 e 1863.
 Hallstatt tornou-se rica através do comércio de sal e as sepulturas dos seus habitantes continham oferendas ricas, incluindo longas espadas de corte, que os arqueólogos imediatamente reconheceram de descrições sobre armas celtas em antigas fontes dos Gregos. Embora Hallstatt tenha uma sonoridade muito germânica é, na realidade, um nome de um local celta, querendo dizer "local de sal". A cultura de Hallstatt divide-se em quarto fases, Hallstatt A (1.200-1.000 a.C.), B (1.000-800 a.C.), ambas do fim da Idade do Bronze e C (800-600 a.C.) e D (600-450 a.C.), do princípio da Idade do Ferro. Esta cultura desenvolveu-se primeiro ao longo do Danúbio, na Áustria, assim como no Sul da Alemanha e na Boêmia, como parte do complexo de campos de urnas, mas só nas fases da Idade do Ferro é que desenvolveu um carácter realmente distinto. A cultura de Hallstatt da Idade do Ferro tornou-se muito influente, difundindo-se pela maior parte da Alemanha e Países Baixos, Suíça, França, Espanha, Portugal e Sudeste da Grã-Bretanha em 500 a.C.
Graças aos testemunhos dos escritos dos Gregos antigos, sabe-se que os povos do centro de Hallstatt eram Celtas, apesar de a cultura Hallstatt não ser idêntica, isto é, o aparecimento da cultura não marca o surgimento dos grupos de língua celta. A difusão da cultura foi, mais provavelmente, o resultado do comércio e contacto social entre grupos que já falavam línguas celtas e partilhavam valores similares, do que de migrações  para fora do centro de Hallstatt. Mesmo quando a cultura de Hallstatt estava no seu auge, havia grupos que falavam celta que não estavam sobre a sua influência; a Ibéria adoptou-a selectivamente, já a Irlanda não.


Pouco existe que possa distinguir a fase inicial da cultura Hallstatt, do resto do complexo de campos de urnas. A influência destes campos entrou em declínio no período B da cultura Hallstatt, quando apareceram estilos distintos de armas, incluindo uma espada mais longa e esguia. A mudança mais dramática seguiu-se à introdução do trabalho em ferro na Europa Central, no século VIII. A paisagem do centro de Hallstatt na Áustria, Sul da Alemanha e Boêmia, começou a ser cada vez mais dominada por fortes em Colinas. À volta destes fortes agrupavam-se sepulturas com mamoas ricamente adornadas, tendo os mais ricos muitas vezes equipamentos de cavalos e carros funerários de quarto rodas. A prática de colocar veículos nas sepulturas da elite, tornou-se uma velha característica celta, apesar das quadrigas de duas rodas substituírem, mais tarde, esses carros. Estes progressos são a evidência do aparecimento de uma sociedade marcadamente hierárquica e centralizada, de poderosos e ricos chefes de clã. A mudança dos enterros de cremação e dos tempos dos  campos de urnas funerárias para a inumação, aponta para maiores mudanças nos sistemas de crenças que acompanham as mudanças sociais.
A causa desta transformação da sociedade de Hallstatt não é clara. Uma possibilidade é a disponibilidade de armas mais eficazes, que permitiam à elite guerreira a obtenção de um poder mais forte. A evidente importância do cavalo na cultura C de Hallstatt é o surgimento da espada longa de corte que servia à cavalaria de combate, levou a sugerir que as mudanças podiam estar relacionadas com a chegada dos cavaleiros nómadas indo-iranianos, chamados cimérios, que dominaram o Oeste das estepes da Eurásia nesta altura. Os imigrantes cimérios podem ter sido assimilados com a elite guerreira e introduzido os novos costumes funerários, sendo a inumação o meio normal entre os nómadas indo-iranianos para acomodar os mortos.

 
Cultura de Hallstatt (Ramsauer)

Por outro lado, a elite indígena pode simplesmente ter adoptado estes costumes estranhos e exóticos dos cimérios como meio de ostentar e reforçar o seu estatuto. Outro factor possível no nascimento da cultura C de Hallstatt foi, provavelmente, o resultado de uma crescente população. Em todas as sociedades pré-industriais a produção agrícola era de longe a mais importante fonte de riqueza. O nível de produção agrícola estava directamente ligado ao esforço humano e animal, que era aplicado na terra, portanto, quanto maior fosse a população, maior a força de trabalho, maior a produção e o excedente para a elite tirar para si, dos camponeses trabalhadores.
(Esta foi a razão por que todas as civilizações nasceram em planícies férteis, como a Mesopotâmia, que podia facilmente suportar populações muito densas, mesmo usando técnicas agrícolas simples.)

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Lancóbriga





Escavado no início dos anos setenta, o "Castro de Fiães" ergue-se no topo do Monte de Santa Maria de Fiães, nas proximidades da localidade com o mesmo nome. Presume-se ter existido naquele local uma cidade celta denominada “Langobriga” (ou Lancóbriga) que é apontada como a possível capital dos Turduli Veteres.
As escavações conduzidas no local, em 1971, incidiram essencialmente na área situada a nascente da capela de Nossa Senhora da Conceição, aí erguida posteriormente, num reflexo de práticas seculares de reutilização simbólica dos mesmos espaços por diferentes comunidades ao longo dos tempos, numa espécie de assimilação e sobreposição sucessiva de valores materiais e espirituais. 

Os trabalhos então desenvolvidos permitiram colocar a descoberto uma zona bastante revolvida, assim como exumar espólio cronologicamente balizado entre os séculos IV e V d. C., correspondendo, por conseguinte, a uma das fases de maior actividade registada até ao momento no sítio, ainda que parte significativa da área de ocupação primitiva continue ocultada pelo adro da referida capela (vide supra).
Com efeito, e apesar de alguns indícios (como fragmentos de cerâmica cinzenta com decoração brunida) apontarem para a construção inicial desta estação arqueológica em plena Idade do Ferro, por volta do séc. II a.C., nesta região do actual território português, a maioria dos artefactos encontrados confirmará a prevalência do período correlativo à ocupação romana, numa confirmação da sua relevância em termos estratégicos. É disso exemplo, para além dos vestígios de algumas estruturas, de aspecto tardio, a existência de fragmentos de cerâmica romana, nomeadamente de luxo, como a terra sigillata, de um dolium (recipiente cerâmico de grandes dimensões destinado a conservar e transportar alimentos) e de vestígios de materiais de construção, como no caso das tegulae, ou seja, de fragmentos de telha rectangular.
As sondagens realizadas já em 1980 permitiram localizar um troço da muralha erguida na primeira fase de ocupação do sítio, correspondente, precisamente, à Idade do Ferro (vide supra). Infelizmente, o castro apresenta-se actualmente destruído na sua quase totalidade em consequência da actividade exercida numa pedreira situada nas imediações, bem como pela edificação de uma moradia justamente no centro do monte em que se ergue o povoado. 

O “itinerário de Antonino” refere que na estrada romana que ligava Olissipo (Lisboa) a Bracara Augusta (Braga) encontrava-se Langobriga a 18 milhas de Talábriga e a 13 milhas de Cale, distâncias que correspondem à localização de Fiães, onde ainda hoje se pode vislumbrar restos do pavimento dessa via no lugar de Ferradal.
Este interessante povoado parece corresponder ao Oppidum dos Turduli Veteres, um povo antigo de celtiberos, e um dos grupos que pertencia aos Lusitanos e situavam-se na margem sul do rio Douro.

A sua capital foi Langobriga actual monte Redondo em Fiães, Santa Maria da Feira. Outras cidades atribuídas aos Turduli Veteres foram Talábriga e possivelmente Oppidum Vacca (Cabeço do Vouga).
A ara descoberta no local e dedicada a “Iuppiter” tenha sido, possivelmente, consagrada oficialmente pelo Oppidium (povoação):

IOVI O(ptimo) M (aximo) P (osuit) L (aetus) L (ibens) ou P (osuit) L (angobriga) L (ibens)

No local foram recolhidas mais de 800 moedas, predominantemente do Baixo Império e dois tesouros monetários do séc. IV d.C.
A necrópole do Oppidium foi destruída no séc. XVIII e ficava situada onde hoje se ergue um complexo escolar.

Fontes: