segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Cultura Hallstatt




Minas de sal
Uma das culturas primitivas mais importantes, geralmente reconhecida como pertencente aos Celtas, é a cultura de Hallstatt, que vai desde o Bronze tardio até ao início da Idade do Ferro. Este nome vem da necrópole de uma antiga comunidade mineira de sal nos Alpes Austríacos, que foi escavada entre 1846 e 1863.
 Hallstatt tornou-se rica através do comércio de sal e as sepulturas dos seus habitantes continham oferendas ricas, incluindo longas espadas de corte, que os arqueólogos imediatamente reconheceram de descrições sobre armas celtas em antigas fontes dos Gregos. Embora Hallstatt tenha uma sonoridade muito germânica é, na realidade, um nome de um local celta, querendo dizer "local de sal". A cultura de Hallstatt divide-se em quarto fases, Hallstatt A (1.200-1.000 a.C.), B (1.000-800 a.C.), ambas do fim da Idade do Bronze e C (800-600 a.C.) e D (600-450 a.C.), do princípio da Idade do Ferro. Esta cultura desenvolveu-se primeiro ao longo do Danúbio, na Áustria, assim como no Sul da Alemanha e na Boêmia, como parte do complexo de campos de urnas, mas só nas fases da Idade do Ferro é que desenvolveu um carácter realmente distinto. A cultura de Hallstatt da Idade do Ferro tornou-se muito influente, difundindo-se pela maior parte da Alemanha e Países Baixos, Suíça, França, Espanha, Portugal e Sudeste da Grã-Bretanha em 500 a.C.
Graças aos testemunhos dos escritos dos Gregos antigos, sabe-se que os povos do centro de Hallstatt eram Celtas, apesar de a cultura Hallstatt não ser idêntica, isto é, o aparecimento da cultura não marca o surgimento dos grupos de língua celta. A difusão da cultura foi, mais provavelmente, o resultado do comércio e contacto social entre grupos que já falavam línguas celtas e partilhavam valores similares, do que de migrações  para fora do centro de Hallstatt. Mesmo quando a cultura de Hallstatt estava no seu auge, havia grupos que falavam celta que não estavam sobre a sua influência; a Ibéria adoptou-a selectivamente, já a Irlanda não.


Pouco existe que possa distinguir a fase inicial da cultura Hallstatt, do resto do complexo de campos de urnas. A influência destes campos entrou em declínio no período B da cultura Hallstatt, quando apareceram estilos distintos de armas, incluindo uma espada mais longa e esguia. A mudança mais dramática seguiu-se à introdução do trabalho em ferro na Europa Central, no século VIII. A paisagem do centro de Hallstatt na Áustria, Sul da Alemanha e Boêmia, começou a ser cada vez mais dominada por fortes em Colinas. À volta destes fortes agrupavam-se sepulturas com mamoas ricamente adornadas, tendo os mais ricos muitas vezes equipamentos de cavalos e carros funerários de quarto rodas. A prática de colocar veículos nas sepulturas da elite, tornou-se uma velha característica celta, apesar das quadrigas de duas rodas substituírem, mais tarde, esses carros. Estes progressos são a evidência do aparecimento de uma sociedade marcadamente hierárquica e centralizada, de poderosos e ricos chefes de clã. A mudança dos enterros de cremação e dos tempos dos  campos de urnas funerárias para a inumação, aponta para maiores mudanças nos sistemas de crenças que acompanham as mudanças sociais.
A causa desta transformação da sociedade de Hallstatt não é clara. Uma possibilidade é a disponibilidade de armas mais eficazes, que permitiam à elite guerreira a obtenção de um poder mais forte. A evidente importância do cavalo na cultura C de Hallstatt é o surgimento da espada longa de corte que servia à cavalaria de combate, levou a sugerir que as mudanças podiam estar relacionadas com a chegada dos cavaleiros nómadas indo-iranianos, chamados cimérios, que dominaram o Oeste das estepes da Eurásia nesta altura. Os imigrantes cimérios podem ter sido assimilados com a elite guerreira e introduzido os novos costumes funerários, sendo a inumação o meio normal entre os nómadas indo-iranianos para acomodar os mortos.

 
Cultura de Hallstatt (Ramsauer)

Por outro lado, a elite indígena pode simplesmente ter adoptado estes costumes estranhos e exóticos dos cimérios como meio de ostentar e reforçar o seu estatuto. Outro factor possível no nascimento da cultura C de Hallstatt foi, provavelmente, o resultado de uma crescente população. Em todas as sociedades pré-industriais a produção agrícola era de longe a mais importante fonte de riqueza. O nível de produção agrícola estava directamente ligado ao esforço humano e animal, que era aplicado na terra, portanto, quanto maior fosse a população, maior a força de trabalho, maior a produção e o excedente para a elite tirar para si, dos camponeses trabalhadores.
(Esta foi a razão por que todas as civilizações nasceram em planícies férteis, como a Mesopotâmia, que podia facilmente suportar populações muito densas, mesmo usando técnicas agrícolas simples.)

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Lancóbriga





Escavado no início dos anos setenta, o "Castro de Fiães" ergue-se no topo do Monte de Santa Maria de Fiães, nas proximidades da localidade com o mesmo nome. Presume-se ter existido naquele local uma cidade celta denominada “Langobriga” (ou Lancóbriga) que é apontada como a possível capital dos Turduli Veteres.
As escavações conduzidas no local, em 1971, incidiram essencialmente na área situada a nascente da capela de Nossa Senhora da Conceição, aí erguida posteriormente, num reflexo de práticas seculares de reutilização simbólica dos mesmos espaços por diferentes comunidades ao longo dos tempos, numa espécie de assimilação e sobreposição sucessiva de valores materiais e espirituais. 

Os trabalhos então desenvolvidos permitiram colocar a descoberto uma zona bastante revolvida, assim como exumar espólio cronologicamente balizado entre os séculos IV e V d. C., correspondendo, por conseguinte, a uma das fases de maior actividade registada até ao momento no sítio, ainda que parte significativa da área de ocupação primitiva continue ocultada pelo adro da referida capela (vide supra).
Com efeito, e apesar de alguns indícios (como fragmentos de cerâmica cinzenta com decoração brunida) apontarem para a construção inicial desta estação arqueológica em plena Idade do Ferro, por volta do séc. II a.C., nesta região do actual território português, a maioria dos artefactos encontrados confirmará a prevalência do período correlativo à ocupação romana, numa confirmação da sua relevância em termos estratégicos. É disso exemplo, para além dos vestígios de algumas estruturas, de aspecto tardio, a existência de fragmentos de cerâmica romana, nomeadamente de luxo, como a terra sigillata, de um dolium (recipiente cerâmico de grandes dimensões destinado a conservar e transportar alimentos) e de vestígios de materiais de construção, como no caso das tegulae, ou seja, de fragmentos de telha rectangular.
As sondagens realizadas já em 1980 permitiram localizar um troço da muralha erguida na primeira fase de ocupação do sítio, correspondente, precisamente, à Idade do Ferro (vide supra). Infelizmente, o castro apresenta-se actualmente destruído na sua quase totalidade em consequência da actividade exercida numa pedreira situada nas imediações, bem como pela edificação de uma moradia justamente no centro do monte em que se ergue o povoado. 

O “itinerário de Antonino” refere que na estrada romana que ligava Olissipo (Lisboa) a Bracara Augusta (Braga) encontrava-se Langobriga a 18 milhas de Talábriga e a 13 milhas de Cale, distâncias que correspondem à localização de Fiães, onde ainda hoje se pode vislumbrar restos do pavimento dessa via no lugar de Ferradal.
Este interessante povoado parece corresponder ao Oppidum dos Turduli Veteres, um povo antigo de celtiberos, e um dos grupos que pertencia aos Lusitanos e situavam-se na margem sul do rio Douro.

A sua capital foi Langobriga actual monte Redondo em Fiães, Santa Maria da Feira. Outras cidades atribuídas aos Turduli Veteres foram Talábriga e possivelmente Oppidum Vacca (Cabeço do Vouga).
A ara descoberta no local e dedicada a “Iuppiter” tenha sido, possivelmente, consagrada oficialmente pelo Oppidium (povoação):

IOVI O(ptimo) M (aximo) P (osuit) L (aetus) L (ibens) ou P (osuit) L (angobriga) L (ibens)

No local foram recolhidas mais de 800 moedas, predominantemente do Baixo Império e dois tesouros monetários do séc. IV d.C.
A necrópole do Oppidium foi destruída no séc. XVIII e ficava situada onde hoje se ergue um complexo escolar.

Fontes: