quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Música na Pré-história


Na sua "História Universal da música", Roland de Candé propõe a seguinte sequência aproximada de eventos:

Antropóides do terciário - Batidas com bastões, percussão corporal e objectos entrechocados.
Hominídeos do paleolítico inferior - Gritos e imitação de sons da natureza.
Paleolítico Médio - Desenvolvimento do controle da altura, intensidade e timbre da voz à medida que as demais funções cognitivas se desenvolviam, culminando com o surgimento do Homo sapiens por volta de 70.000 a 50.000 anos atrás.
Dança de Cogul. Imagem encontrada em Cogul, Espanha. Mostra a dança das mulheres em torno de um homem nu.
Cerca de 40.000 anos atrás - Criação dos primeiros instrumentos musicais para imitar os sons da natureza. Desenvolvimento da linguagem falada e do canto.
Entre 40.000 anos a aproximadamente 9.000 a.C - Criação de instrumentos mais controláveis, feitos de pedra, madeira e ossos: xilofones, litofones, tambores de tronco e flautas. Um dos primeiros testemunhos da arte musical foi encontrado na gruta de Trois Frères, em Ariège, França. Ela mostra um tocador de flauta ou arco musical. A pintura foi datada como tendo sido produzida em cerca de 10.000 a.C.
Neolítico (a partir de cerca de 9.000 a.C) - Criação de membranofones e cordofones, após o desenvolvimento de ferramentas. Primeiros instrumentos afináveis.
Cerca de 5.000 a.C - Desenvolvimento da metalurgia. Criação de instrumentos de cobre e bronze permitem a execução mais sofisticada. O estabelecimento de aldeias e o desenvolvimento de técnicas agrícolas mais produtivas e de uma economia baseada na divisão do trabalho permitem que uma parcela da população possa se desligar da natividade de produzir alimentos. 
Isso leva ao surgimento das primeiras civilizações musicais com sistemas próprios (escalas e harmonia).

As Origens humanas mais antigas - A idade da Pedra


A Idade da Pedra é o período da Pré-História durante o qual os humanos criaram ferramentas de pedra, sendo a tecnologia mais avançada naquele tempo. A madeira, os ossos e outros materiais também foram utilizados (cornos, cestos, cordas, couro...), mas a pedra (e, em particular, diversas rochas de rotura conchóide, como o sílex, o quartzo, o quartzito, a obsidiana...) foi utilizada para fabricar ferramentas e armas, de corte ou percussão.

Contudo, esta é uma circunstância necessária, mas insuficiente para a definição deste período, já que nele tiveram lugar fenómenos fundamentais para os humanos, quanto às aquisições tecnológicas (fogo, ferramentas, moradia, roupa, etc), a evolução social, as mudanças do clima, a diáspora do ser humano por todo o mundo habitável, a revolução económica,  um sistema caçador-coletor, até um sistema parcialmente produtor (entre outras coisas).


As origens humanas mais antigas, achadas em Portugal, são ossadas tipo Neanderthal em Furninhas. A maioria das indústrias Paleolíticas peninsulares estão aí representadas, mas uma cultura distinta surge nos meados do Mesolítico nas zonas baixas do Vale do Tejo, datadas de cerca de 5.500 AC. As culturas Neolíticas chegaram da Andaluzia.

No primeiro milénio AC os povos Celtas entraram na Península pelos Pirenéus, e por pressão natural, muitos grupos dirigiram-se para ocidente. As culturas de Hallstatt trouxeram a fundição do ferro e a fabricação de armas e outros objectos do mesmo metal, ao Vale do Tejo. Os Fenícios e mais tarde os Cartagineses influenciaram fortemente o sul de Portugal no mesmo período.

Períodos da Pré-História no território onde hoje é Portugal - "Idade da Pedra" 
Paleolítico antigo ( Idade da Pedra Lascada ) - É representado até 100.000 A.C. por várias indústrias líticas de que se destacam o Abbevillense, o Clactonense. o Achelense, o pré-Musturiense e o Languedocense. Vestígios nas praias quaternárias do litoral, arredores de Lisboa, Trás-os-Montes, Beira e Alentejo. 
Paleolítico médio - Desde 100.000 a 40.000 anos A.C. Vestígios nos estratos da Mealhada, sul de Peniche, bacia do Tejo, Columbeira ( Bombarral ), Furninha ( Peniche ), Ribeira da Laje ( Oeiras ), litoral do Minho. 
Paleolítico superior - Desde 40.000 a 8.000 anos A.C. Tribos de caçadores instalaram-se nas várias regiões do Ocidente Ibérico. Tinham instrumentos de pedra e de osso mais aperfeiçoados que os das culturas anteriores. Práticas funerárias generalizadas e manifestações artísticas com fins mágicos. Vestígios no Rossio do Cabo ( Torres Vedras ), grutas das Salemas ( Ponte de Lousa ),
Epipaleolítico - 8.000 a 5.000 anos A.C. Populações que viveram em cabanas junto às margens. Usavam objectos de adorno e enterravam os seus mortos na posição fetal. 
Neolítico ( Idade da Pedra Polida ) - 5.000 a 2.000 anos A.C. Povos de origem mediterrânica, introduziram a agricultura e a pastorícia na orla marítima e em algumas regiões do interior. Já no período do Calcolítico em meados do terceiro milénio antes de Cristo, grupos de mercadores vieram abastecer-se de cobre aos centros metalúrgicos da orla mediterrânica. Vestígios quase em todo o território português. 
Fim do que se considera "Idade da Pedra". É importante lembrar que, a Idade da Pedra foi substituída em tempos diferentes. Por exemplo, escavações mostraram que enquanto em certos lugares como a Grã-Bretanha, se vivia na Idade da Pedra, em outros, como Roma, Egipto e China, já se usavam os metais, construíam-se belas casas e conhecia-se a escrita ideográfica ( escrita por hieróglifos ou símbolos).
Ainda hoje, em alguns lugares do mundo, como a Nova Zelândia, há tribos que mal estão saindo do modo de vida da Idade da Pedra. Algumas das tribos Maoris estão nessa situação.
Idade do Bronze - 2.000 a 700 anos A.C. No sudoeste da Península Ibérica floresceu, de meados do segundo milénio até 700 anos A.C.. uma civilização dada à metalurgia de que se identificaram duas fases: o Bronze I (1500-1100) e o Bronze II (1100-840) ambas representadas por necrópoles de cistas e mobiliário cerâmico e metálico, de cobre, ouro e bronze.

A Idade do Cobre - Idade do Bronze



Idade do Cobre, ou Calcolítico (do grego Χαλκός, transl. khalkos), "cobre" + λίθος, transl.líthos, "pedra") é um dos períodos da proto-história, situado cronologicamente entre o Neolítico e a Idade do Bronze (aproximadamente 2500 a 1800 a.C.). O termo também pode ser utilizado para denominar algumas sociedades que apresentaram manifestações culturais diferenciadas durante este período.
Extracção de metais
O bronze é uma liga metálica que compreende o cobre e o estanho, antes de se usar o bronze, usou-se o cobre, a esta época de utilização do cobre, chamou-se calcolítico, não obstante este facto, há quem não aceite esta designação caracterizadora, pois argumenta que a fundição de cobre não é mais do que o bronze natural; mesmo assim, a mesma utiliza-se, pois diferencia os períodos nos quais o bronze era forjado naturalmente da era em que o bronze começou a ser forjado artificialmente e com recurso a estanho. 
O cobre foi o primeiro metal que o ser humano utilizou há aproximadamente 5000 anos, ou seja, no final do Neolítico.

O Menir de São Paio de Antas



O Menir de São Paio de Antas, também referido como Menir de Pedra a Pé, localiza-se na freguesia de Antas, concelho de Esposende, distrito de Braga, em Portugal

Constitui-se em um monumento megalítico do tipo menir implantado no monte sobranceiro à Igreja Paroquial de São Paio de Antas, e para o qual sugere-se uma cronologia em torno de 3000 a.C. a 2000 a.C..
Menir de São Paio
Encontra-se classificado como Imóvel de Interesse Público desde 1992. Além deste, no concelho existem ainda outros dois menires, nas freguesias de São Bartolomeu do Mar e de Forjães.

Em granito apresenta uma configuração fálica e uma ligeira inclinação para sul. Possui as dimensões de 1,65 metros de altura e encontra-se enterrado cerca de 30 centímetros.

Muitos dos megalitos da Idade do Bronze como menires e dólmenes estão situados em regiões em que também há castros, e são anteriores aos Celtas quer em Portugal e na Galiza, quer na costa atlântica da França, Grã-Bretanha e Irlanda. Estes monumentos continuaram a ser utilizados pelos druidas celtas.

Os Romanos destruíram muitos castros, devido à resistência feroz dos povos castrejos ao seu domínio, mas alguns foram aproveitados e expandidos como cidades romanas. Segundo Jorge de Alarcão "Aos castros, deram os Romanos o nome de castella, que aparece nas inscrições do século I d.C. sob a forma abreviada de um C invertido[...]"

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

A Palmeira Ibérica



  Na antiguidade a Palmeira possuía um significado especial conotado com a nobreza e a riqueza de um povo. Na Península Ibérica existiam muitas palmeiras e havia uma área de concentração destas majestosas árvores a que chamavam Terra das Palmeiras, hoje conhecida como Paloma, actual cidade espanhola.

A Palmeira era um dos principais símbolos do Povo Konii/Konti e aparece representada em moedas cunhadas nas antigas cidades peninsulares pré-romanas. Nalgumas dessas moedas vê-se um cavaleiro que eleva um ramo de palma.
Na época Konii/Konti era habitual decorar os herouns (estelas funerárias) com ramos de palmas em homenagem ao defunto. Hoje, ainda se enfeitam as campas com flores, e podemos especular acerca da ancestralidade das romarias que em Dia de Ramos levam o povo a florir os cemitérios. Afinal, as “novas” religiões herdaram tanto das antigas, politeístas, e estas dos tempos mais remotos, que não repugna considerar que uma tradição proto-histórica ibérica tenha passado ao Médio Oriente e transmitida aos hebreus. Assim teríamos a Festa de Ramos, com os seus tradicionais ramos de palma, ainda hoje praticada em Israel. Tradição nada estranha aos costumes árabes que igualmente homenageiam os seus mortos com deposição de ramos de palma nas campas.
As palmeiras eram tão importantes que os povos da antiguidade (nos reinos em que existiam estas árvores), quando guerreavam, costumavam cortar os ramos das palmeiras do inimigo, no intuito de conjurarem toda a espécie de infortúnios sobre as suas hostes.
Das diversas espécies de palmeira algumas chegavam a atingir porte considerável, na ordem dos trinta metros de altura.
Tamareiras e Coqueiros e, ainda, a palmeira do açúcar de cuja seiva se extraía o adocicado néctar e cujas folhas, fervidas, serviam de alimento constituíam as espécies mais utilizadas na alimentação. Também o tronco do Salgueiro (palmeira) era processado e transformado em farinha da qual se produzia um pão sem fermento. Quase todas as partes da palmeira eram utilizadas. Da fibra bruta se faziam vassouras, capachos e cestas. A fibra, processada, era usada no fabrico de cordas fortes e linhas de costura. Dos óleos da palmeira fazia-se manteiga e sabão.
Belas tigelas e outros utensílios de cozinha, e até ferramentas, eram fabricados com a casca do coco. Certas palmeiras produzem um tipo de madeira bastante resistente e impermeável, daí a sua utilização na construção de embarcações. As suas sementes serviam para fins medicinais ou, secas, tornando-se duras e transparentes, eram utilizadas na confecção de colares de contas e outros adornos. Com as flores, brancas e amarelas, faziam-se perfumes e enfeitavam-se os cabelos das mulheres.




O simbolismo da Roda Solar


A roda solar é uma evolução maior do símbolo solar primitivo, que é o círculo. Os dois eixos sobrepostos formando os quatro pontos cardeais formam, assim, a base de todos os símbolos de orientação. É a mesma coisa que uma bússola marcando o Norte em sua parte superior. Mas bem antes da invenção da bússola, este símbolo solar estava presente em todas as culturas europeias, principalmente na Idade do Bronze. Essa época distante nos deixou, entre outras coisas, as numerosas rochas gravadas na Escandinávia, cobertas destas rodas solares. Encontramos também um grande número delas na tradição Celta, embora outras culturas pagãs ao redor do mundo tenham usado este símbolo. Mas antes de adentrarmos nos mistérios da roda solar, vejamos antes alguns aspectos ligados à própria noção de orientação. A orientação implica três elementos de base: a localização do sujeito está marcada pelo ponto central; a orientação no espaço marcada segundo os pontos cardeais terrestres Leste e Oeste, que designam o amanhecer e o pôr do Sol; a orientação marcada segundo os pontos cardeais do eixo Norte e Sul. A roda solar veicula uma verdadeira síntese da orientação em todos os sentidos.
Não só nos orienta no espaço, mas também no tempo do curso do ano solar, já que esta roda sagrada é um símbolo do movimento vital. Sem movimento não há vida, é o movimento cíclico que marca nossas festividades pagãs mais importantes, como os solstícios de inverno e verão, os equinócios de outono e primavera. Estas festas não foram meramente agrícolas, mas tiveram um carácter altamente religioso para nossos ancestrais politeístas.

O solstício de inverno, deformado pelo Cristianismo, se transformou na festa do Natal. Esta data marca o momento do ano no qual a Natureza recupera sua respiração, abrindo, assim, as portas do novo ano, depois de um período de 12 noites sagradas. Os dias se fazem mais largos, permitindo, assim, a chegada de dias melhores e o retorno do Sol. Os Romanos celebravam o culto ao Deus solar Mitra, entre outros, este renascia a cada ano em 25 de Dezembro como filho do Sol. Se designou essa data como a de Sol Invictus, o “sol invencível”. Pouco antes, os Romanos celebravam a Saturnália, momento quando era costume dar presentes. Este período se acabava com a festa e culto ao deus Janus, o deus bicéfalo que leva uma chave nas mãos. Este deus deu seu nome ao mês de Janeiro, sendo este que abre e fecha as portas do novo ano solar. Esta época do ano estava tão arraiada em todas as culturas pagãs da Europa que o Cristianismo só pôde acabar com ela integrando-a em seu calendário ao final do século IV, colocando na mesma data o nascimento de Cristo para substituir e excluir a lembrança do Sol Invictus.
O equinócio da primavera marca o retorno dos dias bonitos e quentes, é o período do ano dedicado à fertilidade e ao amor. A vegetação volta a crescer de novo e os demónios do inverno são expulsos, a promessa de campos férteis enche os corações das pessoas, as flores inundam com milhares de flores os campos, os casais se formam e se unem graças ao encanto mágico da primavera. Tudo cresce. É a celebração do renascer da vida após a pausa invernal. Os Germânicos rendiam culto a Ostara, também chamada Eostre, deusa que deu seu nome à festa de Páscoa (Ēostre, quem está por trás do nome da Páscoa em inglês: Easter). Naquele período, nos quais os dias e as noites eram de mesma duração, era evidentemente a ocasião para celebrar a união do Pai-Céu e a Mãe-Terra, união que, nove meses mais tarde, durante o solstício de inverno, dará a luz ao Sol Invictus, filho do sol.
O solstício de verão é o momento no qual o sol se encontra em seu apogeu, marcando, para nossos ancestrais, um instante mágico durante o qual as forças solares estão ao máximo de suas capacidades. A natureza resplandece com força e com inigualável claridade. O verão traz consigo calor, alegria e abundância, elementos que ainda hoje encantam os veraneantes em busca da felicidade. Mas o solstício é um momento paradoxal do ano, já que no mesmo instante em que o Sol se encontra em seu ponto culminante, momento da vitória das forças solares sobre as do escuro inverno, o Sol anuncia já o destino inevitável de sua carreira cíclica e do declive que o espera. Os dias, pouco a pouco, começaram a ficar mais curtos, a luz diurna tomara o caminho do Crepúsculo dos Deuses. Para os Germânicos, era costume incendiar grandes rodas solares e lançá-las morros abaixo, o que simbolizava o aspecto fecundante do Sol e seu declive anunciado. Muitos rituais têm representado e continuam representando o Solstício de Verão. Nos países bálticos, onde o paganismo ainda segue vivo, o Solstício de Verão é uma autêntica festa nacional, as pessoas usam coroas feitas com folhas de carvalho, que simbolizam o Sol sagrado, dançam e cantam ao redor das fogueiras. Estas fogueiras se encontram por toda a Europa, onde os povos celebram a alegria do dia mais largo do ano. Os bailes em círculo, assim como as fogueiras, são hinos simbólicos ao Sol. O Cristianismo tentou também desviar e absorver o sentido destas festas, fazendo dela a festa de São João. Essas festas de São João têm, desde algumas décadas, tendências a voltar a suas verdadeiras raízes: pagãs. Um caso observável são Les Focs de la San Joan na Catalúnia do Norte. Esta festa não está ligada a nenhum santo cristão, e sim ao Deus Solar de todas as tradições pagãs da Europa: Apolo para os gregos, Belenos/Lugh para os celtas, Baldur na tradição germano-nórdica, Abelio para os celtiberos, Dazbog para os eslavos. Ainda que deva ser notado que, para os celtas, as 4 festas maiores não coincidem com as festas dos demais povos europeus, o que as vezes gera confusão.
A quarta festa é o equinócio de outono, que também é paradoxal.  Marca, por um lado, a abundância, já que é o momento de agradecer aos deuses pelas boas colheitas, mas por outro lado, esta festa marca o declive do Sol em sua carreira cíclica. A abundância nesta festa se encontra na Erntedankfest alemã, onde se agradece aos deuses pelas boas colheitas. Neste caso, o véu cristão é muito fino e é necessário de pouco para encontrar a origem real da celebração. Quando o sol enfraquece, só é necessário observar a Natureza para nos dar conta que os dias se fazem mais curtos, que as rosas caem das árvores, que o frio se faz sentir e que muitas plantas morrem. A morte está na esquina, é a época na qual as portas do além se abrem e se teme a todos os espectros. No mito europeu da Caça Selvagem, o deus Wotan cavalga Sleipnir contornando o céu do outono acompanhado de todos os guerreiros mortos em combate. Mas a morte não é definitiva, já que um velho dito pagão diz que é necessário morrer para renascer, como uma árvore que morre só em aparência, para renascer na seguinte primavera.
A este nível do nosso estudo, acabamos uma volta completa da nossa roda solar.
Esta roda solar esconde outro princípio fundamental que foi estudado pelo grande filósofo Heidegger. É o princípio do Ser e do Tempo (no sentido do tempo que passa). O eixo horizontal do símbolo representa o Tempo, ou seja, tudo o que muda, tudo o que é submetido aos caprichos do destino. O aspecto material está incluso neste eixo. Uma expressão do Tempo é, por exemplo, o corpo físico que nasce, cresce e finalmente desaparece. Enquanto o eixo vertical representa o Ser, o aspecto eterno e imutável, a força espiritual que emana de toda a vida. Mas ao contrário dos monoteísmos que separam as noções de corpo e espírito, a sabedoria pagã se reflecte no simbolismo da Roda Solar, demonstrando que o Tempo e o Ser são dois conceitos inseparáveis.
Segundo as explicações admitidas, o eixo horizontal seria de natureza feminina, enquanto o eixo vertical seria de natureza masculina. A imagem desse simbolismo é de carácter bastante sexual e está de acordo com outros símbolos relacionados aos eixos da roda solar que vimos aqui em cima (imagem). As quatro extremidades da Roda Solar nos conectam com o simbolismo do número 4, intimamente ligado à Terra. O círculo representa o Sol e o 4, a Terra. Temos este código numérico uma vez mais na presença da união do Sol com a Terra.
Precisamos dizer que este símbolo é comummente chamado de “cruz celta”, palavra que deveria ser empregada com prudência por várias razões:
– Este símbolo não é unicamente celta, e como já foi dito, se encontra em todas as culturas pagãs da Europa e em algumas fora dela.
– A cruz celta é uma evolução cristã da Roda Solar, na qual os eixos ultrapassam o círculo para acabar assemelhando-se à crucificação cristã, neste caso a simbologia pagã e cristã se misturaram.
Para concluir, podemos dizer que este símbolo milenar engloba todos os aspectos ligados aos ciclos solares, ao eterno retorno, ao ritmo natural dos elementos celestes em equilíbrio com os elementos terrestres e a harmonia perfeita entre todas as forças que regem o cosmos. É um hino à glória do Sol.

Link original: Symboles Païens et inscriptions runiques

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Batalha de Covadonga



Batalha de Covadonga, momento histórico épico, de contornos lendários, que se terá dado na Primavera-Verão de 722.
Após a queda do Reino Visigodo em 711, resistentes aos Omíadas refugiaram-se no norte da Península Ibérica, na cordilheira Cantábrica, e escolheram Pelágio como rei (718), filho de Fávila, um nobre da corte do rei visigodo Égica. Pelágio fixa a sua capital em Cangas de Onís e encabeça a resistência. Ele recusa pagar tributos aos Omíadas e após reforçar o seu exército com combatentes que continuavam a chegar, ataca pequenas guarnições omíadas da região.
Os omíadas, cujo poder na península se concentrava em Córdova, não parecem preocupados com essa insurreição naquela afastada região montanhosa, sem grande interesse estratégico para eles. Tanto mais que os seus recursos eram absorvidos com as campanhas do outro lado dos Pirenéus, contra o reino franco. Mas após a derrota de 721 em Tolosa, o governador Ambiza (Anbasa ibn Suḥaym Al-Kalbiyy), da Al-Andalus, decide enviar uma expedição punitiva contra as Astúrias, vendo ali uma vitória fácil para elevar o moral das suas tropas. Encarrega Munuza na preparação da expedição. Munuza envia então o general Alqama acompanhado por Oppas, irmão do antigo rei visigodo Wittiza e arcebispo de Sevilha, para negociar a rendição dos Asturianos. Após o fracasso das negociações, os Omíadas, em maior número e melhor organizados, perseguem Pelágio e seus homens. Os asturianos levam pouco a pouco os Omíadas ao coração das montanhas até atingirem Covadonga, num estreito vale de fácil defesa, quando apenas restavam 300 homens.


O número de trezentos traz à memória os famosos Trezentos de Esparta que nas Termópilas enfrentaram, e atrasaram decisivamente, o avanço do Império Persa em terra helénica. Como todas as grandes batalhas, a de Covadonga adquiriu assim contornos lendários, reforçando-lhe o cariz de mito fundador e, como dizia Fernando Pessoa, o mito é o nada que é tudo.
A cena em que Opas tenta convencer Pelágio a render-se, essa então é paradigmática e, embora a sua veracidade seja negada por alguns, não deixa de ter credibilidade: Opas, cuja realidade histórica e papel de traição permanece matéria da história factual independentemente deste episódio, afigura-se aqui como representante do que eventualmente terá sido uma boa parte da hoste cristã, que, talvez seduzida pelas promessas de tolerância da parte do Islão, acabou por aceitar passivamente a invasão norte-africana da Península Ibérica, o que bem pode ter contribuído para que a invasão moura se desse tão rapidamente. De notar que o Islão aceita teoricamente a presença, submissa, de judeus e cristãos, que, em portando-se humildemente diante dos muçulmanos e com estes colaborando, por estes serão «protegidos» como dimis.




Quanto a Pelágio, fosse ou não visigodo, ou talvez um quase bárbaro caudilho Asture, constitui neste episódio o exemplo paradigmático do resistente que não se deixa levar pelo argumento do «dado adquirido» com que Opas esperaria desarmar a sua teimosia. Teimosia esta que talvez tenha levado os Mouros a descreverem-no, e aos seus combatentes das Astúrias, como uns quantos «asnos» a rejeitar o domínio muçulmano. Pois foi a partir da resistência triunfal destes «asnos» que, do extremo norte montanhoso da Hispânia, se foi desenvolvendo um movimento de avanço militar para sul, a chamada Reconquista. É por isso a esta «asnice» que os Hispânicos actuais - Portugueses, Galegos, Asturianos, Castelhanos, Catalães, Bascos, até - devem a sua independência e talvez até a salvaguarda da sua identidade indo-europeia diante das forças do outro lado do Mediterrâneo, onde hoje se ajuntam as vozes de ressentimento contra a derrota muçulmana na Hispânia.

Porque os antepassados dos actuais Ibéricos não foram na fita do dado adquirido e da suposta impossibilidade de resistir à onda invasora oriunda do sul.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Batalha_de_Covadonga

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Carnaval Rural - Caretos de Podence


 
Das variadíssimas manifestações carnavalescas efectuadas de norte a sul do País merecem particular referência aquelas que continuam a manter-se fiéis às suas vertentes tradicionalmente ruralistas, quer em função da sua situação geográfica, quer pelo envolvimento das personagens que lhe estão associadas – as populações locais.
Os habitantes desses lugares representam o suporte genuíno de toda uma ritualidade, por vezes complexa, que nada tem a ver com os padrões modernos dos Carnavais com objectivos turísticos, embora, e talvez por isso mesmo, enfermando de pouca ou nenhuma divulgação, nem mesmo a nível do (re)conhecimento da sua tradição.
Desse grupo, de algum modo restrito, faz parte o Carnaval de Podence (Macedo de Cavaleiros), em terras do Nordeste Transmontano, onde a quadra carnavalesca é festejada de forma a fazer lembrar as suas remotas origens, representadas ali numa encenação vincadamente pagã.
Neste ritual são visíveis as raízes que ligam o Carnaval de Podence às antigas festas dos Romanos, as Lupercais, efectuadas no dia 15 de Fevereiro, segundo uns em louvor de Pã, deus dos rebanhos, da fecundidade e dos pastores ou cabaneiros, enquanto outros sustentam que seriam realizadas em honra de Luperco, também ele deus pastoril da protecção dos rebanhos contra os lobos.
Consideradas das festas mais importantes da antiga Roma, eram particularmente marcadas pelo desfile, nas ruas, de grupos de homens seminus que fustigavam com peles de cabras, imoladas nessa ocasião, as mulheres que encontravam no caminho, num rito punitivo, tendo por intenção torná-las fecundas.  
Ritual a perpetuar-se no Domingo e Terça-Feira de Carnaval, graças à actuação dos «Caretos de Podence», quando, pelas ruas, correm atrás das mulheres – principalmente das novas e solteiras – para «chocalhá-las», isto é, para abraçá-las lateralmente e com movimentos rápidos de semi-rotação da cintura fazer com que os chocalhos que transportam à cinta lhes batam repetidamente nas nádegas.
Os «caretos» (rapazes solteiros) constituem-se como as figuras principais da festa, os seres quase fantásticos destes rituais lúdicos e pagãos, transmitidos de pais para filhos, desconhecendo-se, no fundo, a sua verdadeira origem e significado. 
Simbolicamente associados, na crença popular, «ao espírito do mal», ou a tudo aquilo que se afigure misterioso – forças sobrenaturais e ocultas, curandeiros, bruxos, poderes diabólicos e ao próprio Satanás – auferem de total impunidade durante esse curto período, apenas dois dias, embora costumem fazer uma aparição no Domingo Magro.
 
Em qualquer lugar em que se encontrem é sempre grande a algazarra que provocam, uma vez que comunicam entre si e com os circunstantes apenas por berros, numa linguagem que ninguém entende. Correm frequentemente atrás de quem calha e dançam e saltam como verdadeiros seres invasores e causadores de toda uma desordem e abuso instaurados a que não é possível, nem se deseja, afinal, pôr termo. 
Os fatos dos «caretos», extremamente garridos, são guardados e vestidos, muitos deles, geração após geração, constituindo uma verdadeira relíquia para a família que os possui. Confeccionados na própria aldeia, são feitos de colchas antigas, de lã ou de linho (hoje já raras), tecidas em teares caseiros, cortadas depois ao jeito de fato: calças e casaco com gorra ou capuz. As três peças são quase totalmente recobertas com fieiras de franjas de lã de carneiro, tingidas de diversas cores, ao gosto de quem os faz ou veste, embora as cores tradicionais sejam o vermelho, o amarelo e o verde.              
Somente para as franjas, também elas feitas em tear, são necessários (dizem) sessenta novelos de lã. Um fato de «careto» pode orçar, actualmente, em mais de 400 euros – com as franjas de lã tradicionais substituídas por lã de fibra, sem contar com a dificuldade em encontrar e comprar uma colcha antiga…
 
Como adorno, ostentam à cintura, presos num cinto de couro, fiadas de chocalhos e sobre o peito, cruzadas, as «bandoleiras», igualmente em couro, por vezes com uma ou duas campainhas. O número de chocalhos, hoje, é variável, conquanto o preceito consistisse em doze chocalhos de latão, «se o fato fosse rico», ou apenas oito, «no caso do fato ser mais pobre». Na mão levam um pau ou bengala de madeira de freixo ou castanheiro, que lhes serve de apoio quando saltam ou correm ao som dos chocalhos. Antigamente, usavam uma bexiga de porco ou uma pele de coelho cheia de ar que empunhavam para bater, ritualmente, em quem com eles se cruzava, costume ainda mantido por um ou outro.   
 A designação «caretos» resulta da palavra «careta» ou «máscara», sendo as de Podence, como, de resto, o são todas as máscaras deste género, terríficas. Trata-se de máscaras rudimentares, feitas de latão ou folha-de-flandres, pintadas de vermelho ou negro, com um nariz pontiagudo e três aberturas para os olhos e a boca. Em tempos mais antigos as máscaras eram feitas também de cabedal ou de madeira primorosamente esculpidas.
 
 
As praxes do Carnaval de Podence obrigam a que as crianças do sexo masculino (até aos 11, 12 anos) se mascarem como réplicas dos «caretos» adultos, embora menos elaboradas e se comportem à sua semelhança. Conhecidos por «facanicos», acompanham, nas suas andanças e brincadeiras, o grupo dos rapazes solteiros. Certamente, a forma encontrada para que a figura dos «caretos» se não perca, antes se reforce no objectivo de preservar e garantir a continuidade desta tradição carnavalesca. 
No conceito popular, só o «careto» possui os poderes propiciatórios, profilácticos e expurgatórios no momento da viragem do ciclo agrário - a passagem do Inverno para a Primavera. Poderes exercidos sobre os campos, purificando-os, e a tornar fecunda a produção das terras ao afugentar delas as «forças nocivas ou os espíritos das trevas, que as invadem e empobrecem». Desta forma se perpetuam remotos cultos gentílicos de vegetação e fertilidade, que podem mesmo ir mais longe, considerando que ao «careto» se atribui o poder de «eliminar qualquer mal da Natureza e da própria comunidade».          
E se da Antiguidade lhe vem a Festa dos «Caretos», de lá virá também, supostamente, a designação de «lares» dada em Podence às grandes lareiras sobre as quais se cozinha ainda hoje em panelas de ferro. Quem sabe, a fazer lembrar os deuses Lares – simbolizados por pequenas estatuetas –, colocados nos altares domésticos de cada casa romana, dia e noite alumiados.
 
 
Ao redor dos «lares» reúne-se a família, sentada nos bancos de madeira – os «escanos» –, a dar voz à ceia e aos serões do tempo frio, aconchegada no calor do lume, quando a água gela nas fontes e deixa de fazer ouvir a limpidez do canto.
Na manhã de Quarta-Feira de Cinzas, despidos os fatos de «careto», que se usaram até Terça-Feira de Entrudo, todos comparecem à missa na Igreja de Nossa Senhora da Purificação. A partir desse dia é considerado pecado ouvir-se um chocalho – em Podence os animais não  costumam usá-los; só os «caretos».
  
Fonte: Livro «Festas e Tradições Portuguesas», Vol. II