sexta-feira, 21 de junho de 2013


Solstício de Verão


O Solstício de Verão constitui uma das mais antigas celebrações pagãs que marca o máximo poder do Deus Solar, o dia mais longo do ano antes do seu declínio e "morte" no Solstício do Inverno.
Outros nomes usados para este tempo na Roda do Ano são: Alban Heruin (calendário Druida); Alban Hefin (Tradição Anglo-saxónica); Bênção do sol, Dia de Acópio (Gales); Vestália (Antiga Roma); A Festa de Epona (antiga Gália);
Na tradição Italiana é conhecida como a Festa dell'Estate (festa de verão).
Na Inglaterra este é o dia de Cerridwen e seu caldeirão.
Na Irlanda, este dia está dedicado à Deusa Ninfa Aine. Na Escócia, Litha e, finalmente, no norte da Europa celebra-se o "Dia do Homem Verde". 



 
O Solstício de Verão marca o dia mais longo do ano, e a noite mais curta. A partir do Solstício, os dias encurtam enquanto as noites se tornam cada vez mais longas, e lentamente a escuridão volta a entrar, até chegar ao Solstício do Inverno.
 Nas nossas regiões encontramos os círculos de pedras, ou Cromeleques, que pela sua orientação sugerem que os construtores destes recintos se orientaram pelos corpos celestes para marcar o ritmo do ano. O ciclo do Sol e da Lua à volta da Terra está intimamente ligado ao ciclo de cultivo de alimentos. O Solstício do Verão é neste ciclo um ponto importante. A Deusa Mãe reinou na Terra desde o início da Primavera, e agora está no auge do seu poder e da sua fertilidade. O início do Verão, no momento do Solstício representava neste culto ancestral, o casamento entre o Deus e a Deusa. A Terra recebe os raios do Sol, como numa união entre a Deusa e o Deus, união essa que está na origem da criação dos frutos que hão-de ser colhidas no Outono
Os rituais do Solstício do Verão são celebrações, em que o Fogo - que representa o Sol na Terra - tem um lugar central. Fogueiras são ateadas, há música, canto, danças... O fogo dá aos participantes uma oportunidade de se libertar  nomeadamente dos padrões de comportamento e pensamento ligados ao passado, para que a União simbólica possa acontecer em liberdade.  Jovens casais saltam, de mãos dadas, as fogueiras, celebrando a sua união.
As cerimónias nos locais sagrados celebram o Sol, e são um convite para que tenha lugar a união entre Sol e Terra, Masculino e Feminino.

quarta-feira, 12 de junho de 2013




Talábriga

 

Origens

 

À chegada dos romanos, o litoral a norte do Tejo era ocupado pelos túrdulos, povo cuja cultura era essencialmente mediterrânica. Tal como no sul, mais efectivamente colonizado por gregos e cartagineses, também aqui o espaço se organizava em torno de cidades. Talábriga era a que ficava mais ao norte, já na região do Vouga. A sobrevivência de um substrato mais antigo, de raiz indo-europeia, documenta-se no sufixo briga, que significava 'povoação fortificada'. Para o interior e para o norte o espaço era ocupado por povos com uma cultura mais primitiva, de tipo castrejo e pastoril e predominantemente de matriz indo-europeia. 


Estação Arqueológica (agora parcialmente destruída pela tempestade de 19-01-2013)

 

 

Referências históricas

 

Plínio-o-Velho, autor latino do século I d.C., refere Talábriga ao descrever o litoral da Lusitânia:
"A Durio Lusitania incipit: Turduli veteres, Pæsuri, flumen Vagia, oppidum Talabrica, oppidum et flumen Aeminium, oppida Conimbrica, Collipo, Eburobritium […]"
. Talábriga deveria, pois, situar-se a sul do rio Vouga e a norte da cidade e rio Aeminium (actuais cidade de Coimbra e rio Mondego). A Geografia de Ptolomeu, autor do século II d.C, define as coordenadas de Talábriga com base em distâncias viárias a outras cidades, nomeadamente Conimbriga, Aeminium e Bracara Augusta. Um roteiro da rede viária de todo o império romano, datado do século III d.C., situa Talábriga junto à estrada que ligava Olisipo a Bracara Augusta, concretamente entre Aeminium e Lancobriga (Fiães, Feira). Uma cosmografia tardiamente compilada em Ravena refere uma Terebrica que poderá corresponder à mesma Talábriga.
Segundo Pompónio Mela, a citada cadeia pliniana de cidades, iniciada no Vouga e que se prolongava até ao Tejo, pertencia aos Túrdulos (Turdolorumque oppida). A criação e delimitação do território (civitas) romano de Talábriga remonta à época de Augusto. Com efeito, em 4-5 d.C., sendo Q. Articuleio Régulo governador da Lusitânia, foram colocados marcos de fronteira em vários territórios. Dois desse marcos foram encontrados na fronteira de Talábriga, um em Ul (Oliveira de Azeméis) e outro em Guardão (Tondela).
O facto de o topónimo Talabriga ser de origem pré-romana leva a crer que este povoado já existiria quando a Lusitânia foi integrada no império romano. Curiosamente, Apiano de Alexandria, autor do século II d.C., descreve um episódio de resistência heróica à invasão romana passado num Talabriga oppidum em 138 a.C.. Existia, no entanto, outra povoação chamada Talabriga na região do Lima. Assim, embora a utilização da palavra oppidum favoreça a hipótese de o referido episódio se ter passado na Talabriga do Vouga (Plínio apenas refere oppida a partir do Vouga para sul, estando a região a norte dominada pela cultura castreja), a verdade é que não se pode saber ao certo a qual das cidades homónimas se referia Apiano.

 

 

Talábriga na Guerra Lusitana

 

Depois de expulsar os cartagineses da Hispania, os romanos esboçaram, no início do século II aC., as primeiras intenções de criação de uma administração provincial. Em 197 aC., foram criadas as duas províncias: Hispania Ulterior (a ocidente) e Hispania Citerior (a oriente). Assim se criavam as condições para um mais efectivo controlo e exploração do território dominado. Os excessos da dominação rapidamente levaram a protestos e revoltas dos povos indígenas.
As fontes registam confrontos entre romanos e lusitanos a partir de 194 aC. Em 155 aC., depois de um período de alguma paz, estalou a chamada "guerra lusitana". A morte de Viriato em 139 aC. foi um rude golpe sofrido pelos lusitanos, prenuncio da vitória romana que pouco mais demoraria a consumar-se. Em 138 aC., Décimo Júnio Bruto, nesse ano encarregado do governo da Hispânia Ulterior, empreendeu uma grande campanha militar que se estendeu a todo o actual território português, e que marcará, verdadeiramente, o fim da guerra lusitana. Sabe-se que, durante esta campanha, Bruto fortificou Olisipo (Lisboa). Talábriga é a única cidade que se sabe por testemunhos escritos ter oferecido grande resistência à campanha de Bruto.
Veja-se o que escreveu Apiano de Alexandria: "Entre outras cidades que se rebelaram foi Talábriga a que mais vezes o fez. Brutus, voltando ali, os habitantes da cidade pediram-lhe clemencia e confiaram-se ao seu arbítrio. Em primeiro lugar mandou que lhe entregassem os transfugas dos romanos, os prisioneiros e todas as armas, além dos reféns; depois ordenou que saíssem da cidade com mulheres e filhos. Logo que acabaram de o fazer, cercou-os de tropas e arengou-os, dizendo-lhes que quantas vezes se rebelassem, tantas vezes mais violentamente a guerra lhes seria feita. Amedrontados e convencidos de que mais asperamenente se vingaria deles, Brutus acalmou-os contentando-se só com estas recriminações. Tomou-lhes os cavalos, mantimentos, dinheiro público e mais apetrechos bélicos, restituindo-lhes depois a cidade, o que eles já não esperavam. Depois de tantos feitos, Brutus voltou a Roma".


A localização de Talábriga no Marnel

 

Sendo de 70.5 milhas a distancia em linha recta entre Coimbra e Gaia, não poderá estar correcta a distancia de 71 milhas atribuída pelo Itinerário de Antonino ao percurso entre Eminio e Cale (aliás, a distância tradicional por estrada entre Coimbra e Gaia ronda as 78 milhas). Nesse caso, deve atribuir-se maior importância ao testemunho de Plínio, que obriga a situar Talábriga a sul do Vouga. O sítio arqueológico romano mais importante entre o rio Vouga e Coimbra é o castelo do Marnel, situado no alto de um monte encravado entre os rios Vouga e Marnel. Aqui deveria ficar Talábriga.

 

Vestígios romanos no Marnel

 

A configuração do castelo do Marnel apresenta dois terraços, correspondentes aos dois pontos culminantes do monte: o Cabeço Redondo, ou Cabeço de Vouga propriamente dito, a ocidente, e o Cabeço da Mina, a oriente. Especialmente na vertente norte, os terraços encontram-se circundados por dois outros terraços, em planos inferiores. Em todos os níveis, os terraços terminam em taludes de cerca de quatro metros de altura que, originalmente, deveriam estar, ao menos em parte, revestidos de muralhas. Destas apareceram vestígios a sul e ocidente. No terraço do Cabeço Redondo foram encontrados vários restos de construções, alinhadas de sudoeste a nordeste, ao longo de uma rua que ligava duas portas da fortificação. É provável que todo este aparato defensivo seja medieval, tendo pertencido à Civitas Marnel. No Cabeço da Mina existe uma cisterna onde apareceram moedas romanas. Na encosta oriental do Cabeço da Mina, prolongando-se até às areias do Marnel, foram encontrados restos de cerâmica, grande quantidade de mós manuárias, bem como pedras aparelhadas e capitéis. As escavações realizadas por Rocha Madaíl em 1941 revelaram, entre outras construções, um sistema de muralhas de formato quadrangular, implantado no Cabeço da Mina, que poderão ser o resto do fórum de Talábriga. 


Desde 1996, a Câmara Municipal de Águeda tem vindo a fazer escavações neste local. Estas escavações revelaram uma grande quantidade de cerâmica comum da época romana, alguma sigillata e ainda metais, nomeadamente fragmentos de peças trabalhadas em bronze, e vidros. Embora os resultados das escavações realizadas nos últimos quatro anos não estejam ainda publicados, parece que até agora não se encontrou nada que revolucionasse os conhecimentos sobre este local.


Estação arqueológica do Cabeço do Vouga  

 

Ao longo do século XX, generalizou-se a todo o monte do Marnel, ou Monte Reguengo, a designação de Cabeço do Vouga que, tradicionalmente se aplicava apenas ao Cabeço Redondo e excluia o Cabeço da Mina. Apesar dos esclarecimentos de Sousa Baptista, é frequentemente no sentido mais lacto que o topónimo Cabeço do Vouga é hoje entendido.
A chamada "Estação Arqueológica de Cabeço do Vouga" foi classificada como Imóvel de Interesse Público por decreto nº 36383, DG 147, de 28/06/1947, c/ rectificação no DG 170, de 25/07/1947. Veja-se a página sobre esta estação no Inventário do Património Arquitectónico da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais.



O Território de Talábriga

 

Analisando a distribuição dos marcos de fronteira e dos marcos miliários até agora encontrados, é possível reconstituir o território de Talábriga. Verifica-se que coincidia em boa parte com a medieval terra de Vouga, cuja sede era precisamente a civitas Marnel. Também isto parece ser um forte argumento a favor da localização de Talábriga no Marnel.
O território de Talábriga devia extender-se do rio Antuã até à Mealhada e do mar até às faldas serranas. Neste território se situam as modernas sedes concelhias de Águeda, Albergaria-a-Velha, Anadia, Aveiro, Ílhavo, Mealhada, Oliveira do Bairro, Sever do Vouga e Vagos.


Fontes: http://pt.wikipedia.org/wiki/Talabriga
Para uma listagem de referências bibliográficas, consulte a página sobre a historiografia de Talábriga.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Aldebaran 

 

As entradas dos dólmens construídos há seis mil anos em volta da maior montanha da Serra da Estrela estão todas viradas para o lugar onde, no horizonte, a estrela Aldebaran nasce em Abril, e explicam a origem do nome da mais alta serra de Portugal Continental.
Quem descobriu o segredo guardado por aquelas construções megalíticas foi o astrónomo português Fábio Silva, investigador na University College London, onde está a fazer um doutoramento em arqueologia, depois de se ter doutorado em astrofísica na Universidade de Portsmouth, também no Reino Unido.
Num artigo publicado na revista científica de referência internacional "Papers from the Institute of Archaeology", Fábio Silva revela a importância da estrela Aldebaran, a mais brilhante da constelação do Touro, para os povos pré-históricos e explica de que forma as lendas locais da Serra da Estrela confirmam a sua tese.


Em 2010 o investigador, que estudou na Universidade de Aveiro, iniciou na região entre os rios Mondego e Douro um projecto de prospecção dos dólmens, monumentos megalíticos pré-históricos construídos há cerca de 6000 anos, que também são conhecidos por antas ou orcas.
"O objectivo era verificar se existiria algum padrão a nível de orientação e implantação na paisagem, e se esse padrão corresponderia a algum evento astronómico como acontece, por exemplo, em Stonehenge", conta Fábio Silva.
Stonhenge, o famoso monumento megalítico localizado no Reino Unido, encontra-se alinhado com o nascer do Sol no solstício de verão e com o pôr do Sol no solstício de inverno.

Três anos depois de ter começado o projecto, o astrónomo já tinha estudado mais de 50 antas e concentrou-se no vale do Mondego, na região de Carregal do Sal, "que tem vários monumentos megalíticos em bom estado de conservação e restauro". Foi então que detectou um padrão comum: todas as antas ou dólmens estão orientados para a Serra da Estrela.
O passo seguinte foi "tentar perceber se a zona da Serra da Estrela que é observável dentro de todos os dólmens - uma encosta - poderia ter algum significado especial relacionado com o nascimento de um astro", prossegue Fábio Silva.
E de facto tinha, porque há cerca de 6000 anos a estrela Aldebaran, a mais brilhante da constelação do Touro, nascia exactamente sobre a Serra da Estrela no final de abril, princípio de maio.


"O nascimento desta estrela muito brilhante e vermelha, no período em que os dólmens foram construídos, ocorria numa altura em que as comunidades do vale do Mondego iam passar os meses mais quentes do ano nos prados da Serra da Estrela", onde alimentavam os seus rebanhos de ovelhas e cabras, revela o astrónomo. "A observação astronómica funcionaria, assim, como um perfeito marcador sazonal para estas comunidades".
As lendas locais contam a história de um pastor que vivia no vale do Mondego e ao ver uma estrela nascer sobre uma serra no horizonte, decide ir atrás dela. Quando chega à serra decide dar-lhe o nome de Serra da Estrela.
Fábio Silva explica que "esta narrativa é bastante semelhante ao que a arqueologia e a arqueoastronomia nos dizem: as comunidades neolíticas do vale do Mondego que praticavam a pastorícia, ao observarem a estrela Aldebaran a nascer, deslocavam-se para as cotas mais elevadas da serra, onde permaneciam durante os meses quentes".
Estamos, assim, perante um caso em que o folclore "pode ter mantido viva a memória de algo de extrema importância há 6000 anos atrás".