Atégina ou Ataegina é a Deusa do
renascimento, pois o seu nome é de origem celta e significaria
renascida, ou seja, era uma Deusa ligada ao culto da fertilidade
que tal como os frutos da terra que renascem todos os anos, também
desaparecia sazonalmente no submundo para poder renascer. Também Deusa
da natureza e da cura na mitologia lusitana. Viam-na como a Deusa
lusitana da lua.
Não se sabe ao certo qual a origem do seu culto,
provavelmente era uma Deusa indígena que foi primeiro celtizada, tal
como indica o seu nome e depois romanizada. Esta Deusa acabou por ser
conotada pelos Ibero-Romanos a Proserpina e a Libera. Com Proserpina,
tinha a semelhança de ser Deusa da fecundidade dos campos e dela acabou
por ganhar o carácter infernal que tinha como mulher de Plutão. Libera
por seu lado era a primitiva Deusa da fecundidade agrária, irmã de Liber
(Baco). Ataegina acabou assim por ficar associada a estas duas Deusas do
panteão romano.
Para além do facto de ser uma Deusa da fecundidade,
ligada ao renascimento da natureza e ao germinar das sementes, o seu
carácter infernal fazia com que se lhe fossem consagradas devotio. A
devotio era uma cerimónia religiosa que tinha como objectivo fazer mal a
alguém convocando através de fórmulas as divindades infernais para que
se apoderassem dessa pessoa. Esta devotio servia para lançar uma
maldição, que poderia ir de pequenas pragas à morte. O animal consagrado
a Ataegina era o bode ou a cabra.
Estão também atribuídas a esta
Deusa características de Deusa infernal, pois foi encontrada uma
inscrição de devotio na qual se lê:
“
Dea Ataecina Turi/brig(ae)
Proserpina /per tuam maiestatem / te rogo oro obsecro / uti vindices
quot mihi /furti factum est; quiquis / mihi imudavit involavit / minusce
fecit [e]a[s res] q(uae) i(nfra) s(criptae) s(unt) /túnicas VI,
[p]aenula / lintea II, in[dus]ium ~rabo~/ius I. C…m ignoro i…ius.”
(Deusa Ataecina Turubriga Proserpina, pela tua majestade eu peço, rezo e
imploro que vingues o roubo que me foi feito. Quem quer que me tenha
subtraído, roubado, pilhado as coisas abaixo vão descritas: seis
túnicas, dois mantos de linho, uma peça de roupa interior…).
Ataegina e Endovélico, formavam um par divino que reinava nos Infernos.
Em
algumas inscrições, esta Deusa acabou também por aparecer ligada à
medicina, sendo apelidada pelos dedicadores de Servatrix, ou seja,
conservadora da saúde dos homens. Tal como ao Deus Endovélico, também
era vasto o grupo de pessoas que se dirigiam a Ataegina, escravos, homens
livres, indígenas e romanos.
Em algumas inscrições o nome da Deusa
aparece apenas representado por um A, o que mostra a familiaridade com
esta Deusa e vários são os epítetos a ela atribuídos, tal como Dea,
Domina, Sancta, Invicta, Servatrix, provando assim a sua importância.
Muitas vezes esta Deusa é representada com um ramo de cipreste.
Ataegina era venerada na Lusitânia e na Bética, onde existiram santuários
dedicados a esta Deusa, especialmente em Turóbriga, de onde seria
natural, cidade que segundo Plínio se situava na Beturia Céltica, região
na margem do rio Guadiana. Também em Elvas (Portugal), Mérida e
Cáceres, na Extramadura espanhola, além de outros locais, especialmente
perto do Rio Guadiana, esta Deusa era venerada. Ela era uma das
principais Deusas em locais como Myrtilis (Mértola dos dias de hoje),
Pax Julia (Beja), ambas cidades em Portugal.
História de Ataegina e Endovélico
No Equinócio de Outono,
celebra-se o ritual que representa a descida de Ataegina ao Submundo.
Segundo o que nos conta a tradição, Ataegina desce ao Submundo, em busca
de Seu Amado Endovélico, que havia sido morto por um grande javali (que
simboliza as Forças da Destruição, que desfazem a forma para que a
essência possa renascer). Ataegina desce e encontra-se com seu amado,
agora Senhor do Mundo dos Mortos: Enobólico, o Muito Negro. Ela, que é a
força que a tudo vivifica, ao mergulhar nas trevas da Morte, abandona o
Mundo dos Vivos à escuridão.
A imagem da Deusa fica sobre o altar nos meses claros
do ano, mas no Equinócio de Outono, ritualiza-se a descida de Ataegina,
guardando com segurança a imagem da Deusa, junto com a imagem de
Endovélico, que é também guardada na véspera, quando se ritualiza a
morte e descida do Deus ao Submundo, pela força do Javali Negro. Os
ícones dos Deuses ficam guardados no sacrário durante os meses escuros e
só são retirados seis meses depois, no Equinócio de Primavera, a Festa
do Desabrochar da Vida.
Sempre que Ataegina desce, confio à Deusa e
Senhora Nossa as sementes de meus sonhos. Pois Ataegina é, então, a
própria Semente: que em busca de florescer novamente em Amor e Beleza,
junto a Seu Amado, se enterra no Ventre Sepulcral da Terra Mãe. A
semente, debaixo da terra, será roçada pelas Forças de Destruição do
Submundo, que farão a casca da semente se putrefazer. Nesse processo,
ela passará por dor e medo, numa verdadeira alquimia, no Caldeirão da
terra, vermes e humidade do Ventre da Velha Dana. E deste caos germinal,
surgirá o broto verde que se elevará, em busca do Sol: Endovélico (o
que floresce), que aí sim, terá voltado a brilhar sobre a superfície. O
broto crescerá, recebendo os beijos cálidos de Endovélico. O botão logo
se mostrará por entre as folhagens, e eis que, no tempo certo,
florescerá, e a Deusa, assim, retornará aos seus filhos, a Renascida, a
Flor plena de Vida, Alegria, Beleza e Amor, Ataegina!
E junto com a
Deusa, florescerão os sonhos que este filho devoto lhe confiou, e que
junto com Ela, festejará a realização de cada um deles, assim como
também aprenderá com Ela sobre a não realização daqueles que não
vingarem, pois Ataegina é Senhora da Terra, da Lua e do Submundo, Deusa
Tripla que reina sobre todos os Mundos, e que conhece o que vai nas
profundezas subterrâneas de nosso inconsciente, no íntimo de nossa alma,
e Sabedora disso, concederá sempre os frutos apropriados para a nossa
colheita.