Na arqueologia, um castro (castro, castelo dos mouros, couto dos mouros, citânia, cividades, castelejo, castelos) é um vestígio de uma povoação fortificada, muralhada com uma ou mais fileiras de pedras, um ou mais fossos, e quase sempre no topo de um cabeço, monte com cume arredondado e por vezes com encostas íngremes, geograficamente adequado para o domínio da paisagem local e uma observação à distância.
Os castros
eram núcleos populacionais concentrados, forçados a um isolamento defensivo. Este
é o habitat castrejo típico. Os seus povoados estavam instalados em
colinas de substrato granítico, e as populações castrejas utilizaram amplamente
este material, principalmente para a construção das muralhas, feitas de blocos
de granito toscamente recortados. O que é designado por "civilização do
granito”.
Na cultura
castreja, as casas possuíam planta circular, com cerca de 5 metros de
diâmetro. As paredes eram formadas por pequenas pedras unidas com cascalho, sem
qualquer argamassa. Possuíam piso de saibro batido; no seu interior, uma
lareira no canto, revestida de argila, ao centro, um buraco para um poste que
suportava a estrutura da cobertura, de colmo, material perecível e de formato cónico. Na parte da frente um átrio, algumas vezes com um forno ou forja.
A cultura
castreja localizava-se essencialmente nas zonas do Minho e Trás-os-Montes, a
norte do rio Douro. Para o período que compreende o auge da cultura castreja,
esta região era constituída por duas zonas culturais distintas: litoral (que
chamaremos zona 1) e interior (zona 2). O conhecimento destas
zonas é desigual; no litoral, com mais de 100 anos de escavações contínuas,
opõe-se o interior, quase que totalmente desconhecido.
Na região do
Minho o clima é húmido, com chuvas frequentes (até 3.000 mm anuais). A sua
geografia é entalhada por uma série de vales paralelos, com falésias
delimitando as praias estreitas. O solo, naturalmente pobre, tem a sua
fertilidade assegurada pela adubação de algas marinhas.
Trás-os-Montes
ocupa uma área montanhosa, região de forte erosão secular, com uma topografia
movimentada e de vales profundos como os de Tua, Tâmega e Sabor. Os rios correm
por escarpas com altitudes superiores a 1.200 metros. Tal relevo, que assistiu
ao surgimento da cultura castreja em território lusitano, explica em parte seu
isolamento em pequenos núcleos populacionais.
Para a zona
1, o castro mais famosos é o da Cividade do Terroso, na Póvoa do Varzim e
Viana do Castelo, este último com a escavação de uma pequena necrópole no
interior de um núcleo familiar. Existe um desconhecimento sobre as necrópoles
do período. Pressupõe-se que os rituais funerários castrejos envolvessem a
cremação, devido aos numerosos elementos que remetem ao mundo indo-europeu. As
escavações arqueológicas mostram "...fossas
abertas no solo das habitações, forradas com pedras, no interior das quais se
guardavam urnas contendo as cinzas dos defuntos. Embora não seja possível
atribuir uma datação precisa a estas fossas funerárias, é admissível que
correspondam ao período de que tratamos".
Com os actuais
dados arqueológicos e face à inexistência de necrópoles delimitadas a nível de espaço, podemos especular que a maior parte dos rituais fúnebres
castrejos se davam no interior do espaço doméstico, provavelmente com o intuito
de sacralizar a presença do antepassado, fortalecendo o núcleo familiar
celular, base da sociedade castreja. "...o
núcleo familiar parece emergir vigorosamente como célula-base da
sociedade". A permanência das cinzas enterradas em vasos na casa pode
nos sugerir a sacralização do espaço quotidiano, dessa forma "protegido"
magicamente contra as habituais invasões a que os castrejos estavam submetidos.
Existem
divergências quanto à datação precisa do período que abrange a cultura castreja
no noroeste da Península. O seu apogeu situa-se na II Idade do Ferro (post-halstático)
entre os séculos III a.C. e I d.C. A criação dos castros propriamente ditos
deve corresponder aos movimentos migratórios da área indo-europeia da meseta e
das regiões meridionais, principalmente com as expedições de túrdulos e
turdetanos, descendentes dos antigos tartéssios, entre os séculos V e IV a. C.
Estas
expedições terão ocasionado uma instabilidade social em todo o território de
Entre- Douro e Minho, possibilitando o surgimento destas fortificações.
A cultura
castreja sofreu influências externas distintas:
1) Zonas meridionais
ibero-púnicas (inicio no Bronze Final);
2) Migração
dos túrdulos (reflectidas nas técnicas, nos motivos cerâmicos e na ourivesaria);
3) Influências
continentais (com o crescente deslocamento das comunidades indo-europeias).
É difícil
estabelecer com precisão a intensidade com que cada cultura externa teve
influência sobre a cultura castreja. De qualquer modo, foi essa cultura de miscigenação que existia quando os romanos chegaram. A partir da conquista
romana (que teve início em 205 a. C.) deu-se progressivamente a romanização da
cultura castreja, com a redistribuição e planificação urbanística dos castros
sob a vontade do invasor.
A ocupação
cartaginesa no sul da Península (a partir de 237 a. C., com a invasão de Hamilcar
Barcha, m. 229-228 a.C.) e a II Guerra Púnica (218-201 a. C.),
principalmente com as batalhas de Sagunto (219, início da guerra, com a vitória
de Aníbal [Anibal ou Hannibal, 247-183 a.C.] no cerco à cidade),
Becula (208) e Ilipa (207) (vitórias de Cipião Africano [Scipio Africanus,
cônsul, 205 e 194 a.C.], com a conquista da Espanha para Roma) não influíram directamente na cultura castreja de Entre Douro e Minho, mais ao norte da
Península. Até 197 a.C., a dominação romana na Península se estendia numa faixa
a oeste que ia de Emporion (no nordeste) a Gades (no sul). A conquista só
terminou em 19 a.C., quando Agripa (Agrippa, m. 12 a.C.) dominou os
últimos focos independentes nas Astúrias. Será a partir de então que se dará a
referida romanização da cultura castreja.
Um óptimo
exemplo da influência romana é a escavação de Citânia de Safins, em Paços de
Ferreira. Ela mostra-nos um extenso povoado castrejo, com duas redes de
muralhas à direita e uma divisão interna muralhada. A parte inferior da citânia
mostra os típicos núcleos habitacionais circulares castrejos, reordenados em
"bairros", em substituição ao "caos" anterior pré-romano.
Na parte inferior, observamos quase 40 núcleos familiares circulares, e
aproximadamente 15 núcleos quadrados. Estes últimos possivelmente foram
construídos após a reordenação romana, já que não fazem parte do habitat
castrejo anterior (numa posição divergente, José Hermano Saraiva relaciona as
casas de formato rectangular à invasão céltica, e sua subsequente miscigenação.
Saraiva, 1991: 21).
Vista aérea do oppidum de Safins. |
É importante
ressaltar que, pelos dados fornecidos pelas escavações, cada casa castreja
deveria reunir várias células familiares, ou uma família ampla, de 20 a 50
pessoas, constituindo uma unidade supra-familiar vasta. O geógrafo grego
Estrabão (c. 64 a. C.- 25 d. C.), oferece-nos um excelente panorama dos povos
peninsulares a quando da conquista romana. Estrabão é um autor que deve ser
utilizado com uma certa dose de prudência, principalmente quanto às suas apreciações
de teor etnográfico. A sua obra reflete a visão do conquistador, com todo o seu
desprezo pelas culturas bárbaras; a conquista romana é um imenso "esforço
civilizador" sobre as comunidades peninsulares.
A sua
posição pró-romana já pode ser vista quando tenta explicar as origens da I
Guerra Púnica (264 - 241 a. C.); Estrabão afirma que era prática usual dos
cartagineses afogar qualquer marinheiro intruso, encontrado entre a Sardenha e
Gibraltar. Pirataria que, mais tarde, "explicaria" moralmente a luta
contra os púnicos (Strabo, Geography, XVII, 1, 19). Essa guerra
ideológica seria imortalizada mais tarde com a frase de Catão, o Velho
(Cato, 234 - 149 a. C.): Ceterum censeo delendam esse Carthaginem (E
também penso que Cartago deve ser destruída).
Para
ressaltar a importância da "chegada da civilização", Estrabão realça
o barbarismo destes iberos pré-romanos, afirmando que muitos viviam em cavernas
e choupanas, dormindo no chão e lavando os dentes com urina choca (Strabo, III,
4, 16). Podemos observar a distribuição dos povos que habitavam a Hispânia
pré-romana, de acordo com descrição de historiadores e geógrafos gregos e
romanos (Atlas Histórico - edição especial para Encyclopedia Britannica do
Brasil Publicações Ltda, MCMLXXXVI: 23). Mas esta é uma classificação
étnica simples e que apresenta vários problemas. Estrabão e Plínio, o Velho
(23/24-79 d. C.), por exemplo, muitas vezes tecem considerações genéricas sobre
povos distintos.
A norte do
rio Douro (zona 1), era o território de um grupo de etnias designadas
genericamente pelo nome de Calaicos, palavra relacionada com kelticoi,
nome que os Romanos davam aos Celtas e que veio a dar o termo galegos (Saraiva,
1991: 22).
Nesta área
litoral castreja, encontram-se divergências entre Plínio, o Velho e
Estrabão: o primeiro dá os nomes dos povos que ali viviam (bibalos, celernos,
calaicos, equesos, límicos, querquenos, além de outros); o segundo afirma que
os habitantes do norte do rio Douro eram lusitanos, e que somente após a
conquista romana se passaram a chamar Calaicos. Para um melhor entendimento,
sempre que se refere os calaicos como povo pertencente à cultura castreja,
está-se também a referir outras etnias da mesma região, que desenvolveram uma
cultura semelhante e o mesmo modo de habitação.
Os núcleos supra-familiares castrejos possuíam provavelmente chefes, vitalícios ou nomeados
provisoriamente. Na Citânia de Briteiros, em Guimarães, as escavações
arqueológicas encontraram uma grande construção circular (11 m de diâmetro),
com bancos corridos em volta, implantada num local mais afastado das habitações
familiares Já foram levantadas as seguintes hipóteses para a utilidade de tal
monumento:
1) Um
conselho de anciãos (sem se saber, no entanto, se existiam antes da conquista
romana ou se foi uma implantação criada pelo poder romano);
2) Alguma
instituição ligada à administração de cada povoado.
3)
Simplesmente para o efeito de reuniões familiares, embora de maiores dimensões.
Com a
conquista romana, os povoados castrejos receberam a designação de castellum
(com a abreviatura epigráfica da letra C invertida). A partir de então o
habitante do castro desceu do cabeço e, num processo abrupto, foi obrigado a converter-se
num agricultor dominado, além de trabalhar para o Império Romano nas
construções públicas (pavimentações, fortificações, vias, pontes, etc. - uma
das mais perfeitas pontes romanas construídas no actual território português é a
de Alcântara [a Norba Cesarina do período romano], com arcos de 100 pés
de altura e 180 de largura). Como descreve Serrão: "... após o assassínio do caudilho Viriato e a repressão brutal e
sangrenta exercida pelas tropas de Júlio Bruto, irrompendo até a Galiza, o
habitante dos castros, simultaneamente pastor e guerreiro, bisonho e bravio,
foi, por fim, obrigado pela força das armas a descer à planície aberta e a
submeter-se à disciplina e à lei do invasor, tendo de depor o escudo e a espada
curta…”
Apesar das
discussões referentes à existência de um conselho de anciãos, não há dúvidas
quanto à autonomia de cada povoado em relação aos outros. Os Calaicos não
possuíam nenhum tipo de instituição superior para punir actos ou leis de cada
povoado. Um verdadeira fragmentação de poder, bem caracterizada nos votos
religiosos encontrados, quando os calaicos identificavam a sua origem "pelo nome do povoado que tinham
nascido" ("ao contrário do que sucedia em outras regiões da área indo-europeia
peninsular".
Estrabão
fala de festas familiares que os calaicos faziam em certas noites de lua cheia,
provavelmente associadas a rituais religiosos. Conhece-se uma divindade, de
nome Larouco, particularmente venerada na região de Vilar de Perdizes, em Vila
Real. É também conhecida a rápida propagação do culto a Júpiter, e a associação do deus Marte a algumas divindades locais. A inexistência de
santuários sugere um culto ao ar livre, em contacto directo com a natureza. Todas
as construções específicas para um culto religioso foram construídas após a
ocupação romana, o que não significa necessariamente que não possuíssem algum
tipo de sacerdote, ou grupo sacerdotal.
Estrabão
conta que as populações castrejas comiam pão de bolota durante a maior parte do
ano. As suas actividades dominantes eram o pastoreio e a recolecção. As
mulheres trabalhavam nos campos, os homens apascentavam o gado. Os calaicos
ainda se envolviam em incursões de pilhagem nos territórios vizinhos. Tinham
pouco vinho, apenas era utilizado em festividades para fins de sociabilidade,
"...produziam, no entanto, uma bebida fermentada, à base de frutos.
Desconheciam o azeite e usavam a manteiga como gordura alimentar e,
provavelmente, para outros fins. Não é de excluir, também, a utilização do
linho como oleaginosa alimentar".
Segundo ainda
Estrabão, os calaicos utilizavam também o comércio marítimo: "barcos revestidos de couro e com estrutura
de madeira utilizados pelos povos setentrionais" A arqueologia encontrou joias de ouro
fabricadas localmente. Os recursos minerais (ouro e estanho) estimularam o
interesse romano pela região (Roma já conhecia a riqueza mineral peninsular
desde a dominação cartaginense no sudeste, principalmente entre a I e a II
Guerras Púnicas. Com a vitória, os minérios hispânicos [ouro, prata, cobre,
estanho, ferro, chumbo] passaram a enriquecer Roma, depois de ter enriquecido
Tiro e Cartago).
A cerâmica
pode se prestar a equívocos; foram encontrados vasos gregos (ânforas e outras
de influência púnica) em vários castros (um deles, a Cividade do Terroso).
Quanto à
cerâmica local, encontraram-se recipientes sinuosos, feitos geralmente com
pastas grosseiras e com motivos geométricos feitos com incisão ou com matrizes
de desenhos variados. Encontraram-se também os primeiros vasos com o auxílio do
"torno lento" (fabricação manual) relacionada com o moinho manual
giratório, uma aquisição tecnológica do período.
Estrabão
refere-se à utilização da madeira como uma forma de artesanato. Aqui a
arqueologia confirma a fonte documental: no castro de Santo Estêvão da Rocha,
em Ponte de Lima, recolheram-se alguns fragmentos destes recipientes de
madeira, apenas por sorte, pois a madeira é de difícil conservação, ao
contrário da cerâmica ou qualquer tipo de metal.
O Guerreiro
calaico de Boticas
"O Guerreiro consiste num monólito antropomórfico esculpido, erecto. Apresenta-se vestido com "sagum" (saio exuberantemente decorado com motivos geométricos de círculos concêntricos encadeados e axadrezados), com decote em V e manga curta, cingido por um cinturão com quatro nervuras paralelas. A cabeça é proporcionada, exibindo um cabelo curto e deixando livres as orelhas, barba e bigode. Austenta as seguintes armas: "caetra" redonda e plana (típico escudo redondo), com umbo, com decorações do tipo "labirinto", que segura na mão esquerda com correias cruzadas no antebraço, e na mão direita empunha um punhal triangular curto, com pomo discoidal, introduzido numa bainha com o conto de perfil circular e linhas transversais de possíveis travessas. Usa no pescoço um torque (peça de ourivesaria típica nos guerreiros da época), com aro aberto e em cada braço, uma "víria" de três toros (espécie de pulseira). O Guerreiro Calaico ou Castrejo é o expoente máximo da Arqueologia Nacional e representa, segundo alguns autores especialistas nesta matéria, a imagem da divindade e o carácter guerreiro das civilizações castrejas que habitaram a nossa região."
Na
metalurgia, os calaicos demonstraram grande especialização, principalmente com
o bronze e o ouro. Utilizavam uma espada curta, com cabo de bronze (encontrada
na Citânia de São Julião, em Vila Verde) e facas de lâmina curta, encontradas
na Citânia de São Julião, no Castro de Santa Marta das Cortiças (Falperra, em
Braga) e no Castro da Baiza (Avintes, em Gaia). Aqui também se confirma
Estrabão, que afirma que os lusitanos ainda combatiam com lanças de bronze.
Provavelmente só após a conquista romana a civilização do ferro introduziu-se
na região. José Hermano Saraiva afirma que o ferro foi introduzido na região
com a invasão celta, no I milénio a. C.
Carvalhelhos
é uma aldeia que pertence à freguesia de Beça, concelho de Boticas. Situa-se a
800 m de altitude, 27 km a Sudoeste de Chaves. Portanto, em Trás-os-Montes,
região tipicamente castreja, como vimos anteriormente.
Castro de Carvalhelhos |
O castro foi
"descoberto" por J. R. dos Santos Júnior em 1950, quando descia o
caminho que vem de Lavradas para Carvalhelhos. Visível a olho nu, a muralha
castreja estava quase toda derrubada (as pedras foram utilizadas pela população
local para a construção de casas). Nos anos seguintes foram realizadas ao todo
cinco escavações arqueológicas (1951, 1952, 1953, 1956 e 1957). Para não nos debruçarmos
detalhadamente em cada uma delas, faremos um breve comentário acerca dos
achados materiais no castro de Carvalhelhos. São os seguintes:
1)
Fragmentos de cerâmica, basicamente 03 tipos: a} pouco espesso e de tonalidade
escura (o mais abundante); b} pouco espesso e de tom claro, e c} textura
granulosa, face interna clara e externa escura;
2) Minério
de ferro (3 pedaços) e um cristal de pirite de ferro do tamanho da cabeça de um
dedo;
3) Duas
moedas: um vintém de D. Luís (encontrada na muralha) e outro vintém de D.
Carlos (na casa rectangular, que falaremos mais à frente).
O castro de
Carvalhelhos é conhecido na região como castro, ou couto dos mouros. O castro
de Carvalhelhos está enquadrado no decreto no. 38.941, de 06 de Novembro de
1951 - o castro sofreu uma série de assaltos realizados pelas populações locais
com o intuito de utilizar as pedras para construção de casas. "...um habitante de Carvalhelhos
de nome Alexandre Alves começou a fazer uma casa e que quatro carreiros ao
serviço do mesmo, cada um com seu carro de bois, tinha ido ao castro buscar
pedras e as tinham arrancado da muralha reconstruída e das casas redondas descobertas..." . O indivíduo foi processado, mas não foi condenado a
repor as pedras.
Com
subsídios arrecadados por órgãos governamentais, as escavações puderam
descobrir uma parte da muralha (50 m) na zona sul, além de três casas
circulares e uma rectangular.
Numa parte
da muralha externa foi encontrada uma "porta", com 88 cm de largura,
e uma segunda "porta" interna (chamada de porta principal), de 1,40 m
de largura. Foram encontradas ainda vestígios de três muralhas - um habitante
da região afirmou que existiam 7 muralhas no castro, antes das depravações.
Outra "porta" foi escavada (chamada pelos populares de cavalo dos
mouros), do outro lado do riacho que corre no sopé.
Um aspecto
interessante deste castro foi a descoberta de pelo menos dez rampas de acesso à
muralha. É um dado que afirma o desenvolvimento arquitectónico do castro. Como
no trabalho de J. R. dos Santos Júnior não foram feitas datações, podemos supor
que a construção castreja seja num período mais recente, ou até mesmo que tenha
sido novamente utilizado pelas populações do alto medieval. Isso quase que
antecipa as conhecidas pontes elevatórias dos castelos medievais. Demograficamente, também pode sugerir um crescimento populacional. São
conjecturas possíveis, até termos uma datação mais precisa (como o trabalho
aqui pesquisado é de 1957, existe a possibilidade do castro já ter sido datado
pelos arqueólogos, e não ser do nosso conhecimento).
O castro de
Carvalhelhos possui uma tríplice linha de fossos, com aberturas que variam de 4
até 12 metros (aqui podemos ter a acção da erosão). Com as pedras fincadas
comentadas anteriormente (num total de cinco grupos - o maior grupo tem 18 a 20
m de comprimento por 3 a 4 m de largura, o menor, 3 m de comprimento por 2 de
largura.), o castro de Carvalhelhos era muito bem defendido, tendo caído
possivelmente por cerco prolongado (que trouxe consequentemente a fome dos
sitiados).
O castro
situa-se numa zona granítica com xisto. A região do castro é rica em minério de
estanho e de volfrâmio. Foi encontrado ainda um "esconderijo"
(devidamente assaltado), próximo do cavalo dos mouros, que continha 200 quilos
de cassiterite (a cassiterite é um minério de estanho que, na antiguidade, teve
uma grande importância para a fabricação de objectos de bronze). As populações
castrejas, obrigadas a trabalhar sob o jugo de Roma, ocultaram deliberadamente
o minério para um aproveitamento posterior. É também provável que tenha
despertado o interesse romano, num cabeço próximo há vestígios de explorações
mineiras. Isso também viabiliza a hipótese de queda do castro por cerco - a
região de Trás-os-Montes foi uma das últimas a cair aquando da conquista
romana.
Mas é
durante o período muçulmano que encontramos os melhores indícios de ocupação
castreja. Aqui foi utilizada a onomástica para relacionar a ocupação com longas
tradições locais que perpetuam (muitas vezes sem o saber) essa lembrança.
As
coincidências onomásticas permanecem, mesmo tratando-se de áreas distintas,
separadas pelos Pirenéus.
Dessa forma,
não é de se estranhar que exista a possibilidade do uso do castro até para a
construção de uma fortaleza, utilizando a posição privilegiada, além do
material granítico, já trabalhado em forma de bloco. Assim, podemos colocar a
questão da longa permanência do castro como local de resistência, enraizado na
sua geografia. Sem nos levarmos pelas antigas posturas nacionalistas ("Nos
castros implantam-se velhas raízes da nacionalidade portuguesa, o estudo do
castro é o estudo de uma longa tradição de isolamento, de resistência cultural
ibérica, onde os povos lusos sempre se opuseram ao que veio de fora, ao
"outro".
Bibliografia:
Arqueologia e História (Associação dos Arqueólogos
Portugueses), 10 volumes, Lisboa, 1922-1932.
FABIÃO, Carlos. "O passado proto-histórico e
romano - A II Idade do Ferro". In: MATTOSO, José (org.). História
de Portugal - Antes de Portugal. Lisboa: Editorial Estampa, s/d.
LOT, Ferdinand. O fim do mundo antigo e o princípio
da Idade Média. Lisboa: Edições 70, 1985.
MATTOSO, José. Identificação de um País - ensaio
sobre as origens de Portugal (1096-1325). Lisboa: Editorial Estampa, 1985.
SARAIVA, José Hermano. História concisa de Portugal.
Lisboa: Edições Europa-América, 1991.
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