sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Lenda da origem do vinho na Lusitânia



Um dia há muito anos Baco fez uma visita ao seu amigo Endovélico, o Deus da Lusitânia.
Atravessou as serras e subiu penosamente ladeiras até chegar a terras banhadas pelo rio Dão. Quando chegou a uma tosca cabana de pedra e troncos, onde vivia um casal lusitano com um filho gritou:
Pelos Deuses dai-me de beber!
O lusitano entrou na cabana e regressou com uma caneca de barro cozida ao sol, cheia de água.
Água? Por acaso não tendes vinho?
O lusitano arregalou os olhos, coçou a barba e voltou-se espantado:
Não. Nós não sabemos o que isso é. Quereis vós comer? E sem esperar resposta voltou com uma perna de cabrito montanhês. À despedida, Baco, estava comovido pela franca hospitalidade do luso e disse-lhe:
Ainda um dia hás-de saber o que é vinho.
Alguns anos mais tarde os legionários vieram a casa do luso, e cada um deles abriu uma vala e plantou uma videira. Quando partiram colocaram uma tabuleta nos bacelos onde se poderia ler: "Baco oferece reconhecido”.
Aquelas cepas foram crescendo em mais tarde deram saborosos bagos, cujo suco lusitano espremeu para beber no Inverno numa comunhão de força e rejuvenescimento, e assim daquelas uvas que eram uma delícia do bom Baco, havia nascido o grandioso e salutar vinho do Dão.

A Toponímia Romana em Portugal

Évora

A influência romana sobre o território que actualmente conhecemos como Portugal foi profunda e deixou marcas de Norte a Sul do país. Na imagem pode ver-se um pavimento de mosaico nas ruínas romanas de Milreu em Estoi no distrito de Faro. As Ruínas romanas de Milreu que também são conhecidas como as Ruínas de Estoi, são um importante vestígio da época romana.

Na história da Toponímia em Portugal, nunca pode ser descurada a influência que a conquista da Península Ibérica pelos Romanos nos inícios do século III a.C. veio a exercer sobre a toponímia Ibérica e Portuguesa. Na realidade os Romanos entraram no território que actualmente designamos como Portugal, logo no século II a.C. e depararam-se durante bastante tempo com uma forte resistência por parte dos povos autóctones da península Ibérica.
A romanização da Península Ibérica veio a afectar muitas áreas da vida dos seus habitantes, incluindo naturalmente a linguagem. O latim, acima de tudo a sua versão popular, o latim vulgar, foi difundido por soldados, colonos e mercadores que vinham de várias províncias e colónias romanas e acabaram por criar novas cidades próximo de cidades nativas já existentes.
A utilização de idiomas pré-romanos começou gradualmente a decrescer devido a vários factores. O primeiro destes terá sido o bilinguismo, inicialmente toda a Península Ibérica era falante de idiomas pré-romanos, no entanto, o tempo acabou por ditar que gradualmente estes idiomas fossem tendo a sua utilização reduzida, até que ficaram confinados a zonas isoladas da Ibéria.
Actualmente supõe-se que o contacto do Latim Vulgar com as línguas pré-romanas nativas à Península Ibérica, acabaram por dar origem à formação de diferentes dialectos. Estes dialectos por sua vez terão divergido ao longo do tempo, acabando por evoluir para as primeiras línguas românicas da Península Ibérica, entre elas o galaico-português. O processo de diferenciação das línguas ibérico-românicas terá ocorrido ainda no tempo Romano e provavelmente é responsável por ter dado origem a diversos traços individuais nas línguas em questão.


Os especialistas acreditam que por volta do ano 600 já não era falado o latim vulgar na Península Ibérica. Mas é amplamente aceitado que o latim vulgar teve um papel muito importante na origem de todas as línguas românicas, tendo contribuído com quase 90% do léxico para a Língua Portuguesa.
O grande contributo em termos de toponímia que os Romanos deixaram a Portugal e à Europa romanizada, em larga medida deveu-se ao hábito que os Romanos tinham de mapear e dar nomes às terras por si conquistadas. Por este motivo, a expansão do Império Romano foi sempre acompanhada de uma igual expansão da sua rede de Topónimos.
Infelizmente, o passar do tempo acabou por inevitavelmente apagar muitos destes Topónimos da época Romana e mesmo até da época pré-romana, no entanto, a falta de conhecimento que existe hoje sobre esta área, em parte deve-se à falta de mais esforços no sentido de aprofundar os conhecimentos sobre a Toponímia pré-Romana e Romana.
A implantação Romana na península Ibérica ficou caracterizada pela entrada em vigor de uma nova organização territorial que basicamente veio dividir a Península Ibérica em três províncias subservientes a Roma: a Baetica, a Lusitânia (que correspondia a uma parte significativa do território que actualmente constitui Portugal) e a Tarraconensis.
Durante a época em que o território actualmente português fez parte do Império Romano, foram criadas muitas cidades que ainda hoje existem e florescem. Porém, os Romanos também levaram a cabo uma expansão de cidades que já existiam na Península Ibérica anteriormente à sua chegada.


A política de ordenamento territorial levada a cabo pelo Império Romano na península Ibérica deu origem a importantes aglomerados urbanos e rurais que foram ligados entre si por uma vasta rede viária. Alias, convém salientar, que a criação desta rede viária (um dos maiores símbolos e orgulhos da civilização Romana) também deu origem simultaneamente a uma necessidade de criar novos topónimos para aplicar tanto aos caminhos abertos pelos Romanos, como aos novos aglomerados habitacionais servidos por estas estradas sem paralelo na sua época.
A rede viária Romana foi, aliás, sem dúvida um dos principais motivos pela relativa estabilidade económico-social vivida na península Ibérica durante a ocupação Romana e a densidade da mesma pode ser atestada pela significativa quantidade de vestígios arqueológicos existentes em muitas cidades portuguesas e em outras que hoje se encontram abandonadas, mas que na época do Império Romano constituíam importantes aglomerados habitacionais como foi o caso de Conimbriga e Mirobriga em Santiago do Cacém.
Algumas das cidades criadas pelos romanos, começaram a sua existência como villas romanas, com um senhor romano e peninsulares que ali se fixavam para trabalhar para os senhores romanos. Inicialmente, o regime que vigorava na Ibéria ocupada era o colonial, no entanto, mais tarde, os Ibero-Romanos das cidades ganharam o direito latino passando assim a serem considerados cidadãos de Roma com plenos direitos jurídicos.
As villae constituíam complexos habitacionais que estavam ligados à exploração de vários recursos existentes um pouco por todo o Império Romano. Em Portugal, exemplos destas villae são Mileu (Guarda), Pisões (Beja), São Cucufate (Vidigueira) e Fonte do Milho (Régua). De acordo com H. Lautensach, o nome do proprietário da villa pode ter estado na origem de alguns topónimos como Villa Corneliana que seria Correlhã, Villa Laurentiana corresponderia à Lourinhã e Villa Aurentina a Ourentã. No caso português pode-se dizer que uma parte muito significativa dos topónimos da época Romana foram já localizados, algo que é fundamental para que se possa compreender as raízes mais profundas de muitos topónimos em Portugal.

O quadro seguinte apresenta alguns exemplos de Topónimos usados durante a época Romana no território que actualmente constitui Portugal continental e os Topónimos actualmente correspondentes:

Topónimo Romano
Topónimo Português
Salacia
Alcácer do Sal
Vipasca
Aljustrel
Abelterium
Alter do Chão
Pax Iulia
Beja
Bracara Augusta
Braga
Aquae Flaviae
Chaves
Aeminium
Coimbra
Ebora
Évora
Ossonoba
Faro
Tongobriga
Freixo (Marco de Canaveses)
Igaeditani
Idanha-a-Velha
Olisipo
Lisboa
Myrtilis
Mértola
Cale
Porto?
Scallabis
Santarém
Caetobriga
Setúbal
Sellium
Tomar


Fontes:
GRANDE ENCICLOPÉDIA UNIVERSAL, Toponímia, Edita Durclube, 2004
PIEL, JOSEPH-MARIA, Origens e Estruturação Histórica do Léxico Português, Estudos de Linguística Histórica Galego-Portuguesa, Lisboa, 1989.
GOD’S GUARANTEES FOR GIVING!, Toponymy, http://godsguarantees.com/toponymy.





Os primeiros alfabetos na Ibéria

Os Ibéricos tinham uma língua pré-romana própria, ainda que apenas se tenham decifrado poucas inscrições encontradas. Isto demonstra que eram um povo culto, com algum ordenamento urbano nos seus povoados e tinham os seus próprios rituais e religião. Os Iberos conheceram a escrita através dos povos gregos e fenícios. Algumas palavras têm uma ligação directa com o alfabeto fenício na sua vertente mais arcaica, mas também foram adicionadas vogais gregas e podem-se encontrar parecenças com alguns testemunhos escritos da Ásia Menor. Um dado curioso é que existia dois tipos de alfabetos próprios: o meridional ou tartésico e o levantino ou oriental; que por sua vez indiciam uma separação de culturas dentro da península.
 

Muito menos conhecida que a levantina por causa das poucas inscrições conhecidas e da grande variedade e formas dos símbolos, a meridional surge na área tartésica, mesmo sendo indecifrável sabemos que se escrevia da direita para a esquerda, foram ainda encontradas escrituras em espiral e no sistema bustrofedónico, "como ara el buey", sistema de escritura caracterizado por combinar o sentido da escrita das linhas alternado (da esquerda para a direita; direita para a esquerda; esquerda para direita...) invertendo sempre o sentido da linha anterior).
A escritura meridional foi utilizada na Alta Andalucía e no sudeste, persistindo até ao inicio da época romana. Outro dos achados surpreendentes na câmara de Arjona foi uma inscrição em Ibero meridional, na tampa de uma urna de chumbo. Nesta aparece o que poderá ter sido o nome incompleto de um príncipe ali enterrado com a sua família, "...ILTIR filho de EKATERUTU, foi a primeira vez que foi documentado um nome Ibero.
 

Ibero levantina: inscrições em escrita semi-silábica ibérica e na língua ibérica, , quase sempre escrito da esquerda para a direita. Documentada entre os séculos IV a.C. e I a.C. Antes da segunda guerra púnica o seu uso limitava-se à zona costeira desde o sul de França (do río Orb: Béziers/ Narbonne) ao norte da província de Valência. Posteriormente o seu uso estendeu-se para sul até Múrcia incluindo Granada (pese que apenas está documentado, a "ceca de Granada" deve de estar escrita em levantino) y até ao interior, especialmente no valle del Ebro com testemunhos decrescentes que chegam a Aragón e Navarra.
Estrabão disse que os Iberos tinham musicas e leis escritas em verso, para assim facilitar a sua aprendizagem pelo povo, conhecem-se alguns documentos, como os chamados "plomos de Gádor e La Bastida de Mogente" e alguns pratos ornamentados com pequenas inscrições, mas que na maioria dos casos tratam-se apenas de palavras soltas, inúteis para qualquer tentativa de tradução, já que a respeito do idioma escrito Ibérico pouco se sabe incluindo o ponto em que se separam as palavras. Apesar dos numerosos restos recuperados, o significado das línguas Ibéricas ainda é uma incógnita.

O Lusitano: foi uma língua indo-europeia ocidental atestada em quatro inscrições encontradas na bacia média do Tejo. Alguns investigadores defendem a sua "celticidade" apesar do facto de se conservar a identidade indo-europeia.
 
  

 O mapa linguístico acima, também é étnico (pelo menos na maioria dos casos), porque àquele tempo as "aculturações" eram muito mais raras e escassas, logo era mais difícil um povo perder a sua língua original pela de outro povo invasor (romano, por exemplo).
de qualquer modo, repare-se, por exemplo, no Sul da Lusitânia, que apesar de ter sido parcialmente "celtizado", não era de etnia indo-europeia (turdetana?)
as zonas marcadas a rosa e "ameixa" não são zonas indo-europeias, tal como o País Basco (amarelo claro) ou enclaves no extremo-sul da Espanha (cor-de-laranja, ocupação fenícia)
as zonas marcadas a verde (escuro e claro) são zonas indo-europeias.
as zonas onde haviam idiomas ou dialectos celtas são indicados no mapa pela letra "C"
a Lusitânia propriamente dita falava um idioma não-céltico, mas indo-europeu, apesar de se discutir muito sobre o alegado "celtismo" dos Lusitanos.
é discutível se a área Lusitana chegava à zona de Lisboa e da Estremadura, mas também não é essencial.
na antiga Galécia histórica falava-se o idioma celta Galaico, provavelmente relacionado com o ramo gaélico.
Mais a Sul da Lusitânia, no Alentejo Central e área do Guadiana (ambos os lados da fronteira entre os estados português e espanhol) falavam-se dialectos celtas, já na zona do Baixo Alentejo e Algarve (ocupação turdetana) apesar de não ser uma área indo-europeia, falava-se um dialecto celta ou celtizado, conforme vem devidamente explicado na própria legenda.