Batalha de Covadonga, momento histórico épico, de contornos lendários, que se terá dado na Primavera-Verão de 722.
Após a queda do Reino Visigodo em 711, resistentes aos Omíadas refugiaram-se no norte da Península Ibérica, na cordilheira Cantábrica, e escolheram Pelágio como rei (718), filho de Fávila, um nobre da corte do rei visigodo Égica. Pelágio fixa a sua capital em Cangas de Onís e encabeça a resistência. Ele recusa pagar tributos aos Omíadas e após reforçar o seu exército com combatentes que continuavam a chegar, ataca pequenas guarnições omíadas da região.
Os omíadas, cujo poder na península se concentrava em Córdova,
não parecem preocupados com essa insurreição naquela afastada região
montanhosa, sem grande interesse estratégico para eles. Tanto mais que
os seus recursos eram absorvidos com as campanhas do outro lado dos Pirenéus, contra o reino franco. Mas após a derrota de 721 em Tolosa, o governador Ambiza (Anbasa ibn Suḥaym Al-Kalbiyy), da Al-Andalus,
decide enviar uma expedição punitiva contra as Astúrias, vendo ali uma
vitória fácil para elevar o moral das suas tropas. Encarrega Munuza na preparação da expedição. Munuza envia então o general Alqama acompanhado por Oppas, irmão do antigo rei visigodo Wittiza e arcebispo de Sevilha,
para negociar a rendição dos Asturianos. Após o fracasso das
negociações, os Omíadas, em maior número e melhor organizados, perseguem
Pelágio e seus homens. Os asturianos levam pouco a pouco os Omíadas ao
coração das montanhas até atingirem Covadonga, num estreito vale de
fácil defesa, quando apenas restavam 300 homens.
O número de trezentos traz à memória os famosos Trezentos de Esparta que
nas Termópilas enfrentaram, e atrasaram decisivamente, o avanço do
Império Persa em terra helénica. Como todas as grandes batalhas, a de
Covadonga adquiriu assim contornos lendários, reforçando-lhe o cariz de
mito fundador e, como dizia Fernando Pessoa, o mito é o nada que é
tudo.
A cena em que Opas tenta convencer Pelágio a render-se, essa então é
paradigmática e, embora a sua veracidade seja negada por alguns, não
deixa de ter credibilidade: Opas, cuja realidade histórica e papel de
traição permanece matéria da história factual independentemente deste
episódio, afigura-se aqui como representante do que eventualmente terá
sido uma boa parte da hoste cristã, que, talvez seduzida pelas promessas
de tolerância da parte do Islão, acabou por aceitar passivamente a
invasão norte-africana da Península Ibérica, o que bem pode ter
contribuído para que a invasão moura se desse tão rapidamente. De notar
que o Islão aceita teoricamente a presença, submissa, de judeus e
cristãos, que, em portando-se humildemente diante dos muçulmanos e com
estes colaborando, por estes serão «protegidos» como dimis.
Quanto a Pelágio, fosse ou não visigodo, ou talvez um quase bárbaro
caudilho Asture, constitui neste episódio o exemplo paradigmático do
resistente que não se deixa levar pelo argumento do «dado adquirido» com
que Opas esperaria desarmar a sua teimosia. Teimosia esta que talvez
tenha levado os Mouros a descreverem-no, e aos seus combatentes das
Astúrias, como uns quantos «asnos» a rejeitar o domínio muçulmano. Pois
foi a partir da resistência triunfal destes «asnos» que, do extremo
norte montanhoso da Hispânia, se foi desenvolvendo um movimento de
avanço militar para sul, a chamada Reconquista. É por isso a esta
«asnice» que os Hispânicos actuais - Portugueses, Galegos, Asturianos,
Castelhanos, Catalães, Bascos, até - devem a sua independência e
talvez até a salvaguarda da sua identidade indo-europeia diante das
forças do outro lado do Mediterrâneo, onde hoje se ajuntam as vozes de
ressentimento contra a derrota muçulmana na Hispânia.
Porque os antepassados dos actuais Ibéricos não foram na fita do dado
adquirido e da suposta impossibilidade de resistir à onda invasora
oriunda do sul.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Batalha_de_Covadonga
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Batalha_de_Covadonga
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