terça-feira, 22 de julho de 2014

Ferramentas de pedra


No Neolítico, as comunidades tinham aperfeiçoado ainda melhor as suas ferramentas e armas de pedra:
  • machados para derrubar árvores das florestas,
  • enxós para trabalhar os campos,
  • mós para triturar os cereais recolhidos,
  • pontas de seta para derrubar com flechas certeiras caça grande e pequena.
Pedras para todos os efeitos
No Calcolítico, o uso da pedra foi universal. Os artesãos das várias indústrias líticas sabiam trabalhar pequenas pedras pesando poucas gramas, assim como talhar colossos graníticos, pesando toneladas...
A pedra servia para uma enorme diversidade de usos – desde a construção de muralhas, cabanas habitacionais e complexos espaços funerários – até à elaboração de pequeníssimos objectos, como os pendentes reproduzidos em cima.
Vários tipos de vistosas «pedras preciosas» forneciam matéria-prima para a elaboração de toda uma gama de adornos; a variscita é o exemplo mais importante.
Desde as aplicações mais funcionais do dia-a-dia calcolítico – por exemplo, a separação de músculos, tendões e ossos numa peça de carne, feita com uma afiada faca de sílex – até aos mais místicos usos – como, por exemplo, a fabricação de betilos cilíndricos de calcário, usados em rituais funerários – a pedra era o material que assegurava às sociedades do Calcolítico a sobrevivência diária.
Também servia para assegurar a morte a concorrentes e inimigos, pois não nos restam quaisquer dúvidas sobre a utilização de armas de pedra...
Quem hoje fala de «meios de produção» quer designar unidades de produção, com-plexos industriais com equipamentos modernos, tecnologias evoluídas, recursos de informática, etc. Falar em «meios de produção neolíticos ou calcolíticos» é falar de ferramentas e utensílios de pedra. Pois eram esses que garantiam o controle sobre a Natureza. Para usar uma expressiva fórmula da antropóloga Katina Lillios: «...os machados e as enxós (tanto objectos em bruto como ferramentas prontas) foram essencialmente os meios de produção para as comunidades pré-históricas tardias. E o controle sobre esse meios de produção pode ter sido a base para status, prestígio ou poder político. A sua potência simbólica e social poderá ser explicada pelas suas qualidades transformadoras. Usando estas ferramentas, a Natureza torna-se terra agrícola. A floresta torna-se campo fértil. Um inimigo torna-se um inimigo morto...»
Símbolos de poder
Uma ferramenta, além de ser funcional, poderia ter acumulado outras funções. Além de ser um objecto utilitário, um machado de pedra poderia ser um símbolo de poder, de masculinidade. Poderia ser ainda, cumulativamente, uma «peça de família», um objecto herdado de pai para filho.
Um achado que aponta nesse sentido é o Machado de Óbidos. Em 1999, durante uma prospecção arqueológica sub-aquática realizada pelo Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática (CNANS) durante as dragagens de desassoreamento da Lagoa de Óbidos, foi descoberto, a nove metros de profundidade, um grande machado de anfibolito polido e perfurado.
Este Machado de Óbidos é um dos oito exemplares perfurados deste tipo conhecidos na Península Ibérica. Todas os restantes machados deste tipo foram encontradas em megálitos datados do Calcolítico; portanto, é presumível que o de Óbidos date do mesmo período e provenha de um contexto semelhante.
Os machados perfurados já encontrados estavam dispersos por Portugal e pelo Noroeste de Espanha. Estes objectos, assim presume Katina Lillios, seriam atributos de estatuto de indivíduos pertencentes a uma elite que detinha autoridade numa região particular.

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